Era uma tarde de domingo e algo fantasmagórico me assombrava. Não sabia o que realmente me punha naquele estado. Mas estar de ressaca naquele apartamento vazio e silencioso, às vésperas de mais uma longa semana de trabalho, sentindo o ar frio da rua que entrava pela janela, criava em mim uma estranha sensação de fim dos tempos (fim para mim, pelo menos).
Vomitei mais um pouco, peguei um João Antônio e desci até a praça para tomar ar puro. Dei uma volta inteira na praça indeciso em qual banco me sentaria, indeciso até mesmo se ficaria na praça ou faria outra coisa qualquer que ainda não sabia o quê.
Depois de completar uma volta inteira na praça, caminhei mais um pedaço e fui me sentar na escadaria da catedral metropolitana. Abri o João Antônio em uma página qualquer e antes que começasse a lê-lo percebi pelo canto dos olhos que minha calça estava toda amassada. Deixei o João de lado e estudei melhor minha calça, também minha camisa e foi só então que lembrei que a roupa que estava vestindo era a mesma com a qual havia saído na noite anterior, e que havia dormido e acordado com ela e que não havia vestido outra desde o dia anterior.
Levantei e caminhei de volta em direção à praça. Os bêbados e mendigos se espalhavam por lá, como de costume. E da forma como me encontrava parecia ser mais um deles, só não estava encardido como eles. Fiz uma caminhada pela praça, a fim de bombear ar puro para meus pulmões. A sensação de fim dos tempos já havia se dissipado, só precisava, mesmo, de uma boa refeição naquele momento, já que a última também datava do dia anterior. Não tinha nada do que comer em casa, e também não tinha dinheiro nos bolsos. Concentrei-me no ar que entrava pelas narinas tentando me convencer do quanto nutritivo era aquilo. Seguia absorto nesses pormenores quando me deparei com uma mocinha sentada em um dos bancos da praça. Me aproximei e sentei ao lado dela. Olhei o piercing no seu nariz, depois estudei seus seios e finalmente fiz um apanhado geral dos pés a cabeça, e nada mal. Virei a capa do João Antônio e fingi ler o que havia na orelha. Só fingi, porque minha cabeça estava tomada pela moça sentada ao meu lado. Percebi pelo canto dos olhos que ela me olhou. Fingi estar concentrado na orelha do João Antônio e deixei que ela me olhasse. Assim que ela deixou de me olhar, olhei para ela novamente e para seu piercing.
- Não dói? – Perguntei. Ela me olhou e completei. – Colocar esse negócio no nariz?
Ela sorriu e respondeu. – Não, eles passam um spray anestésico e não se sente nada.
- Gosto de garotas que usam um desses no nariz, ou na sobrancelha, ou no umbigo. Da um toque de classe. – Ela sorriu sem dizer nada e eu continuei. – Como se chama?
- Melissa.
- Mora aqui no centro?
- Moro nos Ingleses, estou esperando um amigo me ligar, ele mora aqui no centro e combinamos de nos encontrarmos aqui na praça. Mas já estou esperando há uma hora e ele ainda não me ligou. Deve ter esquecido de mim. Droga. – Ela fez uma pausa, tirou um cigarro da bolsa e acendeu. – E você, como se chama?
- Alvarêz. Dewïzqe.
- Como?
- Alvarêz Dewïzqe.
- Nunca ouvi um nome como esse. Uhm. Aceita um cigarro?
- Não, obrigado.
- Onde mora?
- Aqui no centro, bem ali. – Disse eu, apontando para a rua onde ficava o prédio que eu morava. – Num prédio antigo ali na Anita Garibaldi.
- Uhm. Com quem você mora?
- Hoje estou sozinho. Vamos até lá conhecer meu apartamento.
- Claro que não! Eu nem te conheço. E se você for um estuprador e quiser me violentar?
Olhei seus seios e depois suas pernas. Ela vestia uma saia jeans bastante curta que exibia bastante das coxas grossas. – É, pode ser que eu seja. – Disse a ela.
Conversamos por um bom tempo. Ela me contou que era de algum lugar distante que não me recordo. Morava nos Ingleses com uma irmã e o cunhado. Pelo que entendi não trabalhava nem estudava. Talvez mais uma vadiazinha trocando foda por dinheiro. Até ensaiei perguntar a ela quanto cobrava para ir comigo até meu apartamento, mas desisti.
- Qual sua idade?
- Dezoito. – Disse ela. – E você?
- Eu tenho vinte e seis. Você tem coxas bem grossas, gosto delas.
Ela olhou suas coxas e sorriu. – Obrigado. – Em seguida levantou o rosto e olhou para mim. – Foi mentira minha, não tenho dezoito, tenho quinze anos. – Ela esperou algum comentário meu, mas apenas sorri. – Droga. Acho que meu amigo me esqueceu.
- É, parece que sim.
- Vamos até seu apartamento? Estou menstruada e preciso trocar meu absorvente.
- Vamos. – Levantamos e saímos caminhando em direção à Anita Garibaldi. Subimos o elevador e entramos no meu apartamento. Ela olhou em volta, curiosa e em seguida me perguntou onde ficava o banheiro. Apontei, mostrando a direção. Ela caminhou até o banheiro, entrou e fechou a porta. Pude ouvir o ruído do trinco trancando a porta. Larguei o João Antônio sobre o sofá, liguei o rádio e pus música.
Alguns minutos se passaram até que ela saísse do banheiro. Vários minutos, na verdade. Não sabia que para trocar um absorvente era preciso todo aquele tempo. Pensei que talvez ela pudesse ter aproveitado para aliviar os intestinos, também. Não importava. Quando a porta do banheiro se abriu eu estava no meu quarto, a chamei pelo nome e ela veio. Sentou-se ao meu lado na cama e pude apreciar novamente aquele belo par de coxas. Ela viu que eu olhava suas coxas e puxou a saia ainda mais para cima, “para que você possa ver toda ela”, disse. Fiz um movimento rápido e tentei me jogar para cima de Melissa e beijá-la. Mas ela foi mais rápida que eu e num impulso pulou para fora da cama e ficou de pé.
- Não! Nem venha! Estava só te mostrando minhas pernas. Faça isso de novo e eu grito!
- Ei baby, relaxa. É que não pude resistir. Não é fácil ficar olhando um par de coxas como esse bem ao meu lado e não fazer nada. E no mais você é um bocado provocante.
- Você me acha provocante?
- E como!
- Então o que acha disso. – Ela se pôs a dançar bem na minha frente, rebolava e girava, chegando cada vez mais perto. Bem perto. Eu continuei sentado na cama encostado na parede. Ela dançava e suas pernas roçavam em minhas calças.
Deixei que ela me provocasse. Permaneci imóvel, apenas salivando e lambendo os beiços. Então quando ela ficou de costas para mim remexendo os quadris, estiquei meu braço esquerdo e alisei uma de suas coxas, entre as duas pernas. Ela jogou a cabeça para trás e deu uma gargalhada. Mas não houve tempo nem para que me jogasse para cima dela e novamente ela pulou para longe e virou-se olhando para mim, séria.
- Você é bem folgado, sabia? – Preferi não dizer nada. – Quer que eu grite? Eu grito. Vou até a janela e grito ‘tarado!’ bem alto. – Eu sorri para ela. – Ta rindo por que? Acha que não posso fazer?
- Sei que você é capaz de fazer. Relaxe. Estou apenas sorrindo para você.
Ela tirou um cigarro da bolsa e acendeu. – Se importa se fumar aqui?
- Não.
- Você tem um belo sorriso.
- Obrigado.
- Você toca punheta?
- Sempre que não tenho uma boceta.
- Deixa eu ver seu pinto. Me mostra como você faz.
Desabotoei a calça, desci a braguilha e pus ele para fora. Ela olhou para ele e sorriu. Manteve o olhar fixo nele por todo o tempo. Segurei o bicho e toquei uma na frente dela, suavemente. Ela olhava meu pau com curiosidade, como se visse um pela primeira vez e estivesse agradavelmente surpresa com o que via.
- Ta bom, já vi. Agora pode guardar. – Disse ela, sem tirar os olhos dele.
- Calma baby, deixa que está bom.
- Não quero mais ver isso.
- O que te incomoda, nunca viu um desses?
- Claro que já.
- Quer segurar?
- Não, guarde.
- Pegue, toca uma punheta aqui para mim. Não seja criança.
Soltei meu pau e ela se aproximou. Ajoelhou-se bem na minha frente, entre meus joelhos, segurou o bicho e mandou uma punheta. Tinha a mão macia e quente. E estava bom a valer. Já contemplava a possibilidade daquela punheta virar um boquete. Mas num pulo ela pôs-se de pé novamente e se afastou. “Agora guarde”, disse. Guardei o bicho e fechei as calças.
Ela sentou-se ao meu lado novamente e disse, “por um momento tive vontade de te beijar na boca”, “então beije”, respondi. “Agora não tenho mais vontade”, disse ela. Levantou-se da cama, pegou sua bolsa e caminhou até a porta do quarto. “Já vou”, disse ela e sumiu pelo corredor do apartamento. Levantei da cama e fui até a sala. Lá estava ela, de pé postada ao lado da porta. Tirei as chaves do bolso e abri a porta. Ela se inclinou em minha direção, deu um beijo em minha boca, disse tchau e foi embora.
A tarde caminhava para seu fim. Senti vontade de um banho. Senti-me um tolo.
No banheiro o cesto de lixo transbordava de papel higiênico amassado em pequenos rolinhos. Havia vários deles espalhados no chão também, em volta do cesto. Deixei como estava. Tirei minhas roupas e fui para o chuveiro. Não tinha sabonete. Fui até a área de serviço e peguei um pedaço de sabão para lavar roupas que estava sobre o tanque. Voltei para o banheiro e tomei um banho quente e relaxante. Esqueci que era um tolo.
Mais tarde descobri que Melissa havia deixado seu maço de cigarros sobre minha cômoda. Havia sete deles ainda. E antes de ir dormir fumei todos os sete.
puxa vida, quer ou não quer? dá ou desce. adorei.
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