terça-feira, 6 de agosto de 2013

Estranhos naquela noite.

           para R.

baby,
naquela noite éramos apenas dois estranhos
fazendo de taças e tragos nossa celebração
da derrota e da solidão
eu vestia meu velho sapato de cadarços poídos
minha velha calça surrada
aquela camisa que aparece nas fotos
e meu pralana, é claro
você vestia sua melhor roupa
que dava a seu corpo toda a forma
      de mulher que um homem pode desejar
nós bebemos naquela noite, pra valer
já estavamos completamente bêbados
      quando toquei sua campainha,
             diga-se a verdade
eu estive no bar horas antes, baby
escorado no balcão
deixando que o suor de tantas garrafas
fizesse minha noite
nem olhava para o lado
para não ter que encarar a face estúpida
de toda aquela gente tatuada
foi quando tocaram meu ombro
e no meu ouvido disseram que você estava
      em casa
            sozinha
                  esperando por mim
e não passávamos de dois estranhos...
estranho, isso
eu deixei o bar e fui até seu endereço
quando cheguei na rua indicada
parei o fusca do amor
da janela você chamou, alvarêz!
sorri para você, encostei o do amor, subi
e toquei sua campainha
      estúpido demais para fazer uma serenata
bêbado demais para enxergar além
e entender a ternura daquela paisagem
you, on the balcony, 
      over your elbows, smiling to me
continuamos bebendo naquelas horas perdidas
a madrugada já era um cúmulo
qualquer prece seria um absurdo
fizemos, então, o que seria o mais ponderado
bebemos,
      bebemos,
            bebemos
o que foi mesmo que você pôs para a gente ouvir,
      lou reed
            ou bob dylan?
tanto faz, a gente bebia
e fizemos, então, o que se espera de dois estranhos
sozinhos numa madrugada sem fim
fazendo de taças e tragos a celebração
da derrota e da solidão
baby, me encaixei em você
e deixei que o suor de seu corpo
fizesse nossa noite
      nossa madrugada
            nossa alvorada
até que os pássaros anunciassem o novo dia
numa sinfonia estridente e louca
lembrando que somos todos estranhos
e o que fica, geralmente, é a tristeza
      abrigada
navegando nesse rio que nunca acaba.

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