A tarde de sábado ia lá por seus meados, quando lhe atacou a diarréia. O negócio voltou no dia seguinte, mais forte, debilitante. Estranhamente, foi só na quinta-feira subseqüente que a vontade voltou a corteja-lo, mas dessa vez veio como de costume, de aparência saudável, boa textura, apesar do tamanho. Ledo, então, passou a mão no telefone e discou.
- Pizza-rápida, boa noite!
- Ei, uma gigante de mussarela.
- Onde?
- Travessa Lua Bonita, 145.
- Certo, em dez minutos.
- Ok.
Ledo foi até o refrigerador, puxou uma lata e foi com ela até o sofá. Já havia alcançado meia lata, quando sentiu vontade de cagar. De novo. Correu até o sanitário, baixou as calças, sentou e deixou o negócio fluir. E vinha, vinha, vinha. Muita coisa. A campainha tocou uma vez. Ledo berrou lá do banheiro, "aguarde!". A campainha tocou pela segunda vez, "ei! Só um minuto!". A campainha tocou pela terceira vez e Ledo resmungou, "merda".
Quando, enfim, conseguiu livrar-se de todo o dejeto, correu até a porta, mas já não havia mais ninguém. Foi até a sala, puxou o gancho e discou, novamente.
- Pizza-rápida, boa noite!
- Minha pizza gigante de mussarela!
- Senhor, nosso entregador esteve no endereço indicado, mas...
- Sim, foi o sanitário, você entende, esse quando chama não tem como escapar.
- Ó, sim senhor. Sua pizza chega num instante.
- Ok.
- Senhor?
- Sim?
- Está se sentindo bem?
- Melhor que há dez minutos atrás.
- Faz sentido, uma boa noite.
- Obrigado.
Foi num instante, matou a outra meia lata e a campainha tocou. Ledo foi rápido até a porta e lá estava o entregador com sua pizza.
- Sua pizza.
- Obrigado.
- Estive aqui ainda pouco, toquei três vezes, mas ninguém atendeu.
- Sim, foi o sanitário, você entende, esse quando chama não tem como escapar.
- Compreendo.
- Tome, e fique com o troco.
- Obrigado, boa apetite.
- Obrigado.
- Senhor?
- Sim?
- Está se sentindo bem?
- Com bastante fome, mas logo passa.
- Com certeza.
- Obrigado.
Ledo levou a caixa até a cozinha e pôs sobre a mesa. Tirou a tampa e lá estava ela, amarela e fumegante. Água na boca. Buscou duas latas no refrigerador, prato-garfo-faca no armário e serviu-se.
Era início de madrugada. Ledo sesteava sobre o sofá da sala, pernas esticadas sobre a mesa de centro, cachimbo aceso em uma das mãos e uma lata na outra. Soltou o cachimbo e pegou um jornal de dias, que estava jogado no chão. Abriu nos classificados. Procurou pelos anúncios de meninas de programa. Sheila, Dani, Katy, Soraya. Olhou o número, passou a mão no telefone e discou.
- Olá.
- Quem fala.
- Soraya, toda sua.
- O Nilson está?
- Não tem nenhum Nilson aqui, querido.
- Não? Quem fala?
- Soraya.
- Você é mulher do Nilson?
- Não tem nenhum Nilson aqui!
- Esse número é do Nilson.
- Não enche! - Clek.
Paula, Luci, Flávia, Vanessinha. Deu uma boa virada na lata, passou a mão no telefone e discou.
- Olá.
- Quem fala?
- Soraya.
- O Nilson está?
- Qual é cara? Ta querendo tirar uma?
- Mas esse número sempre foi do Nilson. Ele não está?
- Estou eu e minhas amigas. E você está atrapalhando nosso trabalho.
- É um call-center?
- Não querido, somos garotas de programa... Que tal?
- Ah... Pode ser. Você vem até aqui?
- Qual o endereço?
- Travessa Lua Bonita, 145.
- Em dez minutos estarei aí.
- Nossa, tudo nessa cidade chega em dez minutos.
- O que disse?
- Esqueça, estou esperando.
- Escute...
- Sim?
- Está se sentindo bem?
- Cheio de tesão, venha depressa!
- Já estou saindo.
- Obrigado!
Dez minutos depois a campainha tocou. Ledo levou Soraya até o quarto e pôs sobre a cama. Tirou sua roupa e lá estava ela, amarela e fumegante. Água na boca. Buscou duas latas no refrigerador, preservativos no armário e serviu-se.
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