domingo, 13 de outubro de 2013

Amor à crédito.

Era por volta da meia-noite. Estávamos aqui em casa e demos uma trepada, das boas. Mas depois levei ela em casa.



Lembro que depois da trepada fui até o refrigerador e saquei outra cerveja, ela me disse, “bêbado”, e eu perguntei  ”bêbado por quê? “, “você já está na quarta cerveja”, “nem comecei”, “você vai me levar bêbado em casa”,”tanto faz”, “tanto faz o que?”,”o que você pense, ou o que qualquer um pense, meus ouvidos já estão fartos”. Daí ela me abraçou e ficou assim comigo por vários minutos. Depois disso pediu que a levasse para casa.

Levei ela, voltei e terminei de beber minhas cervejas de bêbado.

Certa vez alguém disse que o amor é um cão dos diabos.

De bermuda, chinelo e sem cerveja, decidi vestir minha jaqueta de inverno, descer até o Do Amor, e ir atrás de mais cerveja de bêbado.

O tanque do Fusca estava no sufoco. Girei a chave na ignição, aqueci o motor, liguei o som e sintonizei uma estação. Acendi os faróis e fiquei olhando o ponteiro colado no vazio. Saí da garagem. Desci a Manoel Loureiro até a Leoberto Leal e virei à esquerda.

Encostei no primeiro posto, “tem cerveja?”, “sim”, ”das de bêbado”, ”sim”, “ aceita crédito? ”, “não”.

Engatei a primeira e toquei em frente. Rodei mais umas centenas de metros até chegar no posto seguinte, “gasolina, aceita crédito? ”, “aceitamos!”, “a conveniência está aberta? Preciso pegar umas cervejas de bêbado!”, “fecha meia-noite, senhor”. Pensei um pouco, engatei a primeira e toquei em frente.

Avistei mais um posto e ameacei encostar, mas tinha uma viatura da polícia parada, abastecendo. Nem pensei. Acelerei, engatei a terceira e segui em frente.

Fiz a volta no trevo de Barreiros e passei reto, já que o posto logo em seguida, depois das 23, não servia cerveja de bêbado.

Segui pela marginal da 101 até o posto onde eu sabia que noite e dia encontraria minha cerveja, de bêbado, e a gasolina.

Deu que há uns cem metros do posto o tanque do Fusca secou. Por sorte vínhamos no embalo, loucos por gasolina comum e minhas cervejas de bêbado. Botei em ponto-morto e desliguei a ignição, suave ele subiu a rampa do posto e gentilmente se posicionou em frente à bomba de gasolina. “Trinta pila de comum”, pedi ao frentista.

Enquanto o Do Amor bicava sua gasolina, fui até a loja de conveniências e peguei umas sete pescoçudas, dessas cervejas de bêbado, ou cinco, não tenho certeza. Paguei tudo no crédito e me mandei de volta.



Agora vou abri outra, daquelas, e pôr um disco ao vivo do Neil Young.

3 comentários:

  1. que faltem as de bêbado em casa... assim não precisarás mais sair dirigindo com algumas já na cabeça.


    adoro teus textos.
    são vivos!


    bj, alvarez.

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  2. Respostas
    1. Lê, o ideal é que nunca falte, mas faltando é só botar o Do Amor no piloto automático, ele já conhece o caminho.

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