domingo, 27 de outubro de 2013

Sad Song.

Ao lado de Bob Dylan e Raul Seixas, Lou Reed foi um dos caras que me guiaram pelas trilhas do rock. Se hoje subo num palco e faço meu som, Lou Reed tem parte nisso. Fico aqui pensando nas músicas dele que marcaram minha trajetória e, caralho, tem muito Lou Reed na trilha sonora da minha vida. Domingo triste. Sad Song.


Deixo aqui os versos que escrevi para ele em 2011, depois de ver na TV umas apresentações dele com o Metallica.

MÁQUINA METÁLICA 
       -para Lou Reed

Lou, meu chapa
pula fora dessa arca
de mamutes e trogloditas
da era da pedra lascada

   eles nunca vão entender
   sua máquina metálica

esses grunhidos estridentes
destoando sem melodia
frente a elegância raivosa
de sua rebeldia

   eles nunca vão entender
   sua máquina metálica.

domingo, 13 de outubro de 2013

Amor à crédito.

Era por volta da meia-noite. Estávamos aqui em casa e demos uma trepada, das boas. Mas depois levei ela em casa.



Lembro que depois da trepada fui até o refrigerador e saquei outra cerveja, ela me disse, “bêbado”, e eu perguntei  ”bêbado por quê? “, “você já está na quarta cerveja”, “nem comecei”, “você vai me levar bêbado em casa”,”tanto faz”, “tanto faz o que?”,”o que você pense, ou o que qualquer um pense, meus ouvidos já estão fartos”. Daí ela me abraçou e ficou assim comigo por vários minutos. Depois disso pediu que a levasse para casa.

Levei ela, voltei e terminei de beber minhas cervejas de bêbado.

Certa vez alguém disse que o amor é um cão dos diabos.

De bermuda, chinelo e sem cerveja, decidi vestir minha jaqueta de inverno, descer até o Do Amor, e ir atrás de mais cerveja de bêbado.

O tanque do Fusca estava no sufoco. Girei a chave na ignição, aqueci o motor, liguei o som e sintonizei uma estação. Acendi os faróis e fiquei olhando o ponteiro colado no vazio. Saí da garagem. Desci a Manoel Loureiro até a Leoberto Leal e virei à esquerda.

Encostei no primeiro posto, “tem cerveja?”, “sim”, ”das de bêbado”, ”sim”, “ aceita crédito? ”, “não”.

Engatei a primeira e toquei em frente. Rodei mais umas centenas de metros até chegar no posto seguinte, “gasolina, aceita crédito? ”, “aceitamos!”, “a conveniência está aberta? Preciso pegar umas cervejas de bêbado!”, “fecha meia-noite, senhor”. Pensei um pouco, engatei a primeira e toquei em frente.

Avistei mais um posto e ameacei encostar, mas tinha uma viatura da polícia parada, abastecendo. Nem pensei. Acelerei, engatei a terceira e segui em frente.

Fiz a volta no trevo de Barreiros e passei reto, já que o posto logo em seguida, depois das 23, não servia cerveja de bêbado.

Segui pela marginal da 101 até o posto onde eu sabia que noite e dia encontraria minha cerveja, de bêbado, e a gasolina.

Deu que há uns cem metros do posto o tanque do Fusca secou. Por sorte vínhamos no embalo, loucos por gasolina comum e minhas cervejas de bêbado. Botei em ponto-morto e desliguei a ignição, suave ele subiu a rampa do posto e gentilmente se posicionou em frente à bomba de gasolina. “Trinta pila de comum”, pedi ao frentista.

Enquanto o Do Amor bicava sua gasolina, fui até a loja de conveniências e peguei umas sete pescoçudas, dessas cervejas de bêbado, ou cinco, não tenho certeza. Paguei tudo no crédito e me mandei de volta.



Agora vou abri outra, daquelas, e pôr um disco ao vivo do Neil Young.

terça-feira, 1 de outubro de 2013

Cabelos vermelhos.

Não tinha os cabelos vermelhos como imaginava Nelson. Uma mulher pouco atraente. Mas pelo menos os cabelos poderiam ser vermelhos, Nelson não resistiria aos cabelos de fogo. Para ele nada mais fazia diferença numa mulher se os cabelos fossem vermelhos.

Recebeu a ligação dela numa noite qualquer. Ela disse que o havia visto num recital de poesia alguns dias antes, que sua poesia poderosa a havia tocado profundamente e que de alguma forma conseguira o telefone dele. Dizia ao telefone que queria vê-lo.

- Bebe cerveja?
- Bebo.
- Lê Dostoievski?
- Leio.
- Já comeu lagosta numa noite estrelada de verão?
- Nunca.
- Já esfaqueou alguém?
- Quase.
- Quase? Bem, nem tudo é perfeito. Tome um ônibus e venha me ver.
- Tenho condução própria.
- Como preferir.

Nelson correu até a geladeira para conferir o estoque de cervejas. Tudo em ordem. Colocou um disco do Frank Sinatra, acendeu um incenso, abriu uma cerveja e jogou-se no sofá.

Duas horas depois o blin-blon da campainha. Levantou-se e foi até a porta. Mal abriu e lá estava ela grudada em seu pescoço, menos mal, ao menos Nelson pode esconder a indisfarçável decepção. Não tinha os cabelos vermelhos como imaginava Nelson. Uma mulher pouco atraente. Mas pelo menos os cabelos poderiam ser vermelhos, Nelson não resistiria aos cabelos de fogo. Para ele nada mais fazia diferença numa mulher se os cabelos fossem vermelhos. Apontou a ela o sofá na sala, "sente-se, vou buscar cerveja para nós" "adoro cerveja!". Correu até a cozinha e pegou uma faca, a mais afiada, partiu algumas rodelas de salame e cebola sobre uma tábua, pegou duas cervejas e seguiu até a sala. "Caso tenha fome", disse, colocando a tábua ao alcance dela. Girou a tampa das duas garrafas e passou uma para ela.

- Ródia deveria ter apunhalado a usurária?
- Por que não?
- Foi assassinato!
- Sim! Somos todos assassinos em potencial. Todos nós, de alguma forma, acabamos por matar alguém algum dia, não há nada demais nisso. Ele apenas fez o que julgou mais correto.
- Já apunhalou alguém?
- Sim.
- Ó! Como foi?
- No desjejum. Depois me limpei e saí para o trabalho.
- Você me atrai.
- Imagino que sim.
- Posso levantar minha saia para você?
- Pode ir buscar mais uma cerveja para mim. E busque uma para você, também. Vamos nos embebedar antes.

Cabelos não-vermelhos, uma mulher minguamente interessante. Nelson não tinha nenhum desejo naquela noite, senão tomar suas cervejas e ficar só. Mas tinha aquela mulher ao seu lado, querendo arrancar-lhe uma foda. Não há nada mais por hoje, além de uma boa noite de sono, disse Nelson, taxativo, vamos nos deitar e amanhã pela manhã você vai. Foram até o quarto e deitaram juntos na cama.

Nelson queria dormir, mas a bunda roçando sua perna foi o que bastou. Jogou-se para cima dela e lançou a língua quente para dentro de sua boca. Lambeu-lhe os dentes, o céu da boca, a língua, os lábios, o pescoço, os seios. Em seguida subiu de volta e entrou.


Acordou nauseado. Foi até o banheiro lavar-se e nem lembrava da mulher que havia dormido ao seu lado. Quando voltou ao quarto ela estava de pé o esperando de braços abertos. Não tinha os cabelos vermelhos como imaginava Nelson. Um crime... Uma mulher pouco atraente. Mas pelo menos os cabelos poderiam ser vermelhos, Nelson não resistiria aos cabelos de fogo. Para ele nada mais fazia diferença numa mulher se os cabelos fossem vermelhos. Ela avançou na direção dele intencionando um beijo quente como o da noite anterior. Nelson se esquivou, arrependido da noite anterior. Que merda que fiz! Pensou. Correu até a cozinha, voltou, e em seguida fez o que fez por julgar o mais correto. Depois desjejuou, limpou-se e saiu para o trabalho.