terça-feira, 10 de dezembro de 2013

Sexo fracionado.

Léfio buscou o banco mais à esquerda, era o que ficava mais afastado dos outros fregueses. Sentou-se e fez sinal ao do balcão para que lhe servisse conhaque com bastante gelo. Não houve tempo nem para que a bebida fosse preparada e servida, e logo uma das meninas encostou ao seu lado.

- Olá.
- Oi, eu tenho um pênis.
- Ó! Imagino que deva ter um grande e suculento pênis.
- Quanto você me paga para tê-lo?
- Não banque o engraçadinho, é você quem deve me pagar.
- Por Deus! Eu devo pagar para que você tenha o meu pênis?
- Você pega rápido a mensagem.
- Eu pago, e você o tem... Isso me soa estranho.
- O mundo é estranho.
- Você tem razão.
- Beba seu conhaque, e peça um para mim.
- Ei, rapaz! Um para ela. Com gelo?
- Sim.
- Com gelo!
- Obrigado.
- Me diga, quando devo pagar a você para que você possa tê-lo?
- Trinta pratas, boquete incluso.
- Beba seu conhaque e vamos até minha casa.

Entraram no Volks e seguiram cruzando avenidas e dobrando esquinas, até chegar ao lugar de Léfio. Desceram, depois subiram até o segundo andar. Léfio encaixou a chave na fechadura, girou, abriu e entraram. Acendeu a luz, trancou a porta, colocou boa música e buscou duas Heines. Abriu a ambas e uma deu a ela, que numa só virada matou meia garrafa. Tirou os sapatos, abaixou as calças e foi até a poltrona. Abriu os seis botões da camisa, era uma noite quente, uma noite e tanto.

- Hum, quero isso. - Disse ela, apontando.
- Cerveja? Mas você já tem uma.
- Não! - Resmungou ela, apontando mais precisamente. - Isso! Seu pau!
- Sente-se, baby, tome sua cerveja, vamos conversar, é um diabo duma noite quente, relaxe.
- Quero relaxar aí em cima de você, depois pegar meus trinta e cair fora.
- Relaxe, você terá os seus trinta, e ainda uma carona de volta para o trabalho.
- Você é brocha, ou o quê?
- Baby, se eu meter em você essa coisa aqui, bem dura, você vai precisar de umas duas noites de resguardo para se recuperar.
- Ah! É o que eu quero ver.
- Acalme-se, tome sua cerveja. Seja rápida, pois a noite é quente, ela logo esquenta. Nossa! Veja como sua!
- Deus. Certo.
- Vou buscar mais uma para mim, acabe logo a sua e trago outra para você.
- Deus. Certo - Disse e numa segunda investida derramou a outra metade garganta abaixo.
- Tome. – disse, apontando a ela mais uma garrafa.
- Sabe, primeira vez que um homem me leva para casa para ficarmos apenas 'conversando'.
- Poderia ser pior, baby. Poderiam ter mais quatro ou cinco aqui, esperando. Seria currada até pelas narinas, um em cada narina.
- Quando pensar nisso traga sua mãe, ela estará mais disposta.
- Minha santa mãezinha... Necrofilia não.
- Ó! Desculpe.
- Me conte, já houve alguma foda incomum?
- Diversas. Certa vez transei com gêmeos siameses, sabe, aqueles que estão grudados um ao outro.
- Sim.
- Aqueles eram grudados pelo traseiro, ficavam um de costas para o outro.
- Por Deus!
- Sim, e enquanto um me fodia o outro ficava perguntando 'e aí mano, como está? Como estão fazendo? Me deixa fazer um pouco agora!', então davam meia-volta e era a vez do outro.
- Uma foda e tanto.
- É, revezamento uma por dois. Acho que foi isso.
- Certa vez fodi uma puta, ela tinha só uma das pernas. Céus, como foi difícil, acabava sempre caindo para o lado. Não tinha apoio, entende...
- Ah, sim...
- Pendia sempre em direção à perna faltante, e o pênis escorregava para fora. Acabamos improvisando. Novas posições e tal.
- Porque você chama isso de pênis?
- Ah, desculpe, a pica. Ou pau. A vara... Como preferir.
- Gentileza sua.

Léfio foi até o banheiro e parou de pé em frente ao vaso sanitário. Enquanto mijava observava uma pequena papa-moscas que estava no teto, bem sobre sua cabeça. Havia também um mosquito e a aranha estava bem perto dele, pronta para o bote. "ataque, garota!" disse Léfio. Nisso o mosquito bateu suas asas e partiu. A papa-moscas virou-se e caminhou até o encontro do teto com a parede e se escondeu. Léfio sacudiu, guardou, puxou a descarga e voltou para sala.

- Me diga, quanto tempo temos?
- Mais vinte minutos. Ainda acho que você é brocha. Não pode, me traz aqui e só quer conversar.
- Que diferença faz? Você terá seus trinta, é o que importa para você.
- Você poderia ter ficado lá na casa, sentado tomando seu conhaque, conversando com o garçom.
- É.
- Ó, conhaque. Sempre me ataca a barriga. Com licença.

Ela levantou-se e foi até o banheiro. Da sala Léfio pôde ouvir ela fazer pum. Aproveitou e fez o seu, também. Do outro lado da rua, evangélicos entoavam cânticos. Rezavam para um Deus que não conheciam, buscando uma passagem menos dolorosa possível. Léfio sempre se imaginava por debaixo daqueles cabelos compridos, levantando aquelas saias que iam até o tornozelo, e descobrindo o templo sagrado.

A porta do banheiro se abriu. Ela veio e sentou.

- Quanto tempo temos?
- Mais onze minutos.
- Se apresse! Tome sua cerveja e vamos. Não quero pagar a fração.
- Vamos.

Léfio abotoou a camisa, vestiu as calças, colocou os sapatos e desceram até o Volks. Era uma noite bela e estrelada. Quente, nem mesmo a brisa refrescava. Deu a partida e seguiram.

- Baby, tenho algo se mexendo aqui no meio das pernas. Se mexendo por você.
- Hum, ops, vamos ver.
- Venha, monte enquanto dirijo. Faltam poucos minutos!
- Assim... Mais para cá.. Espere... Preste atenção no trânsito... Assim, na mira... Ah uhmmm... Seu pênis, enfim!

Chegaram ao destino três minutos atrasados. Ela puxou da bolsa uma pequena calculadora e começou a digitar. "trinta por sessenta dá cinqüenta, multiplicado por três dá um e cinqüenta, somado com trinta é trinta e um e cinqüenta". Léfio puxou três notas de dez, mais duas moedas de cinqüenta e outras duas de vinte e cinco e entregou a ela. "Aí está, o que te devo por ter tido meu pênis", disse Léfio. Ela pegou o dinheiro, saltou do Volks e entrou. Ele saltou, fechou a porta e seguiu o mesmo rumo.

Léfio buscou o banco mais à direita, era o que ficava mais afastado dos outros fregueses. Sentou-se e fez sinal ao do balcão para que lhe servisse conhaque com bastante gelo.

domingo, 10 de novembro de 2013

Progresso.

O paradoxo central não está no mapa
   Nem os bois nem as estradas
O recorte foi feito à régua
   Léguas e léguas de braços de corda
Fumaça preta inalada no descanso mal resolvido
Nos olhos rasos d'água e fuligem a saudade da poeira
Momentos de crise
   Crise da cana, da pinga
Na vida movida à engrenagens engraxadas

Que venha o progresso
   as antenas, o asfalto, o assalto
Que venha o progresso
   as baratas, os ratos, os restos

O que sobrou do que não morreu
Virou um mito ocidental
Foi dizimado pelo dízimo.

domingo, 27 de outubro de 2013

Sad Song.

Ao lado de Bob Dylan e Raul Seixas, Lou Reed foi um dos caras que me guiaram pelas trilhas do rock. Se hoje subo num palco e faço meu som, Lou Reed tem parte nisso. Fico aqui pensando nas músicas dele que marcaram minha trajetória e, caralho, tem muito Lou Reed na trilha sonora da minha vida. Domingo triste. Sad Song.


Deixo aqui os versos que escrevi para ele em 2011, depois de ver na TV umas apresentações dele com o Metallica.

MÁQUINA METÁLICA 
       -para Lou Reed

Lou, meu chapa
pula fora dessa arca
de mamutes e trogloditas
da era da pedra lascada

   eles nunca vão entender
   sua máquina metálica

esses grunhidos estridentes
destoando sem melodia
frente a elegância raivosa
de sua rebeldia

   eles nunca vão entender
   sua máquina metálica.

domingo, 13 de outubro de 2013

Amor à crédito.

Era por volta da meia-noite. Estávamos aqui em casa e demos uma trepada, das boas. Mas depois levei ela em casa.



Lembro que depois da trepada fui até o refrigerador e saquei outra cerveja, ela me disse, “bêbado”, e eu perguntei  ”bêbado por quê? “, “você já está na quarta cerveja”, “nem comecei”, “você vai me levar bêbado em casa”,”tanto faz”, “tanto faz o que?”,”o que você pense, ou o que qualquer um pense, meus ouvidos já estão fartos”. Daí ela me abraçou e ficou assim comigo por vários minutos. Depois disso pediu que a levasse para casa.

Levei ela, voltei e terminei de beber minhas cervejas de bêbado.

Certa vez alguém disse que o amor é um cão dos diabos.

De bermuda, chinelo e sem cerveja, decidi vestir minha jaqueta de inverno, descer até o Do Amor, e ir atrás de mais cerveja de bêbado.

O tanque do Fusca estava no sufoco. Girei a chave na ignição, aqueci o motor, liguei o som e sintonizei uma estação. Acendi os faróis e fiquei olhando o ponteiro colado no vazio. Saí da garagem. Desci a Manoel Loureiro até a Leoberto Leal e virei à esquerda.

Encostei no primeiro posto, “tem cerveja?”, “sim”, ”das de bêbado”, ”sim”, “ aceita crédito? ”, “não”.

Engatei a primeira e toquei em frente. Rodei mais umas centenas de metros até chegar no posto seguinte, “gasolina, aceita crédito? ”, “aceitamos!”, “a conveniência está aberta? Preciso pegar umas cervejas de bêbado!”, “fecha meia-noite, senhor”. Pensei um pouco, engatei a primeira e toquei em frente.

Avistei mais um posto e ameacei encostar, mas tinha uma viatura da polícia parada, abastecendo. Nem pensei. Acelerei, engatei a terceira e segui em frente.

Fiz a volta no trevo de Barreiros e passei reto, já que o posto logo em seguida, depois das 23, não servia cerveja de bêbado.

Segui pela marginal da 101 até o posto onde eu sabia que noite e dia encontraria minha cerveja, de bêbado, e a gasolina.

Deu que há uns cem metros do posto o tanque do Fusca secou. Por sorte vínhamos no embalo, loucos por gasolina comum e minhas cervejas de bêbado. Botei em ponto-morto e desliguei a ignição, suave ele subiu a rampa do posto e gentilmente se posicionou em frente à bomba de gasolina. “Trinta pila de comum”, pedi ao frentista.

Enquanto o Do Amor bicava sua gasolina, fui até a loja de conveniências e peguei umas sete pescoçudas, dessas cervejas de bêbado, ou cinco, não tenho certeza. Paguei tudo no crédito e me mandei de volta.



Agora vou abri outra, daquelas, e pôr um disco ao vivo do Neil Young.

terça-feira, 1 de outubro de 2013

Cabelos vermelhos.

Não tinha os cabelos vermelhos como imaginava Nelson. Uma mulher pouco atraente. Mas pelo menos os cabelos poderiam ser vermelhos, Nelson não resistiria aos cabelos de fogo. Para ele nada mais fazia diferença numa mulher se os cabelos fossem vermelhos.

Recebeu a ligação dela numa noite qualquer. Ela disse que o havia visto num recital de poesia alguns dias antes, que sua poesia poderosa a havia tocado profundamente e que de alguma forma conseguira o telefone dele. Dizia ao telefone que queria vê-lo.

- Bebe cerveja?
- Bebo.
- Lê Dostoievski?
- Leio.
- Já comeu lagosta numa noite estrelada de verão?
- Nunca.
- Já esfaqueou alguém?
- Quase.
- Quase? Bem, nem tudo é perfeito. Tome um ônibus e venha me ver.
- Tenho condução própria.
- Como preferir.

Nelson correu até a geladeira para conferir o estoque de cervejas. Tudo em ordem. Colocou um disco do Frank Sinatra, acendeu um incenso, abriu uma cerveja e jogou-se no sofá.

Duas horas depois o blin-blon da campainha. Levantou-se e foi até a porta. Mal abriu e lá estava ela grudada em seu pescoço, menos mal, ao menos Nelson pode esconder a indisfarçável decepção. Não tinha os cabelos vermelhos como imaginava Nelson. Uma mulher pouco atraente. Mas pelo menos os cabelos poderiam ser vermelhos, Nelson não resistiria aos cabelos de fogo. Para ele nada mais fazia diferença numa mulher se os cabelos fossem vermelhos. Apontou a ela o sofá na sala, "sente-se, vou buscar cerveja para nós" "adoro cerveja!". Correu até a cozinha e pegou uma faca, a mais afiada, partiu algumas rodelas de salame e cebola sobre uma tábua, pegou duas cervejas e seguiu até a sala. "Caso tenha fome", disse, colocando a tábua ao alcance dela. Girou a tampa das duas garrafas e passou uma para ela.

- Ródia deveria ter apunhalado a usurária?
- Por que não?
- Foi assassinato!
- Sim! Somos todos assassinos em potencial. Todos nós, de alguma forma, acabamos por matar alguém algum dia, não há nada demais nisso. Ele apenas fez o que julgou mais correto.
- Já apunhalou alguém?
- Sim.
- Ó! Como foi?
- No desjejum. Depois me limpei e saí para o trabalho.
- Você me atrai.
- Imagino que sim.
- Posso levantar minha saia para você?
- Pode ir buscar mais uma cerveja para mim. E busque uma para você, também. Vamos nos embebedar antes.

Cabelos não-vermelhos, uma mulher minguamente interessante. Nelson não tinha nenhum desejo naquela noite, senão tomar suas cervejas e ficar só. Mas tinha aquela mulher ao seu lado, querendo arrancar-lhe uma foda. Não há nada mais por hoje, além de uma boa noite de sono, disse Nelson, taxativo, vamos nos deitar e amanhã pela manhã você vai. Foram até o quarto e deitaram juntos na cama.

Nelson queria dormir, mas a bunda roçando sua perna foi o que bastou. Jogou-se para cima dela e lançou a língua quente para dentro de sua boca. Lambeu-lhe os dentes, o céu da boca, a língua, os lábios, o pescoço, os seios. Em seguida subiu de volta e entrou.


Acordou nauseado. Foi até o banheiro lavar-se e nem lembrava da mulher que havia dormido ao seu lado. Quando voltou ao quarto ela estava de pé o esperando de braços abertos. Não tinha os cabelos vermelhos como imaginava Nelson. Um crime... Uma mulher pouco atraente. Mas pelo menos os cabelos poderiam ser vermelhos, Nelson não resistiria aos cabelos de fogo. Para ele nada mais fazia diferença numa mulher se os cabelos fossem vermelhos. Ela avançou na direção dele intencionando um beijo quente como o da noite anterior. Nelson se esquivou, arrependido da noite anterior. Que merda que fiz! Pensou. Correu até a cozinha, voltou, e em seguida fez o que fez por julgar o mais correto. Depois desjejuou, limpou-se e saiu para o trabalho.

segunda-feira, 9 de setembro de 2013

Essa árvore que a gente plantou.

             para L.

Hoje meu espírito pede uma noite diferente, distante
Como daquelas que tivemos juntos há algumas primaveras.
Pede garrafas de vinho, insanidades confortantes,
Uma fuga, só, nada cinematográfico,
Simples apenas, doida o bastante.

Hoje meu espírito quer te buscar e encontrar, seja onde for
Jogada no sofá ou me olhando do colchão.
Quer deitar e sentir o mundo girar, se partir
Te abraçar e esquecer os dias de transe
Ser você, até o outono chegar, a folha cair.

quarta-feira, 4 de setembro de 2013

Que Deus resguarde os violadores de moças evangélicas puras.

Dividia esse apartamento no centro da capital com um camarada, e não havia como encontrar lugar pior que aquele. Um moquinfo repleto de mofo e umidade, o aluguel mais barato da cidade. O contrato estava por vencer e decidimos que cada um tomaria seu rumo. Seria legal, pensava eu, mudar de lugar, encontrar um lugar bonito e arborizado, num bom bairro. Uma bela casa, bem arejada, com sol pela manhã e pela tarde. Flores para regar e vizinhos sorridentes para cumprimentar.

Não demorou até que ele conseguisse um lugar para morar. Mas estava difícil combinar o lugar que eu desejava com os proventos que me sobravam para o aluguel. Com o contrato do aluguel no centro por vencer eu corria contra o tempo, não haveria como prorrogar o contrato por mais alguns dias, seria mais um ano ou nada.

Vasculhei os anúncios de aluguel até que bati com um que parecia legal. BOA CASA, NUM BOM LUGAR, POR UM PREÇO LEGAL. Anotei o endereço e no dia seguinte fui visitar o lugar.

Havia uma ladeira incrivelmente íngreme e pela numeração a casinha ficava lá no topo. Seria deveras complicado conciliar a bebida com toda aquela subida. Alcancei o número indicado e bati à porta. Uma dona de idade bem avançada veio me atender.

-    Olá, boa tarde, é sobre o anúncio de aluguel.
-    Ó sim, temos uma casa para alugar, venha comigo que vou te mostrar. – Ela veio para fora, fechou a porta e saiu para rua. – Fica ali mais adiante. – Disse, apontando para o alto do morro. Subimos mais algumas centenas de metros até alcançar a casa para alugar.

Era uma casinha miúda, de um cômodo mais banheiro e uma pequena cozinha. Não era uma casa nova. Por fora a umidade havia enegrecido toda a parede e o limo cobria a calçada em frente à porta de entrada. Por dentro uma tinta azul envelhecida dividia as paredes com lascas de reboco descascado e rachaduras. Havia mobília. Uma cama de casal, um guarda roupas, uma mesa com duas cadeiras, fogão e geladeira enferrujados. A janela da frente não abria, estava emperrada. A fechadura da porta de entrada não fechava direito. A descarga do banheiro funcionava bem e o chuveiro era de água quente. Combinamos o preço e ainda me sobraria alguma coisa. Já havia esquecido aquela história de sol, flores e vizinhos sorridentes. Adiantei um mês de aluguel para a dona, peguei as chaves (um gesto simbólico já que a fechadura da porta de entrada não funcionava) e voltei para o apartamento do centro para arrumar minhas coisas.

Saímos no mesmo dia. Levei as chaves da antiga morada para o dono do apartamento e “pt saudações!”.

Entrei na nova morada no início da noite. A proprietária havia prometido que iria fazer uma faxina no lugar e realmente estava tudo em ordem quando cheguei. Desfiz minha mala e arrumei meus pertences. A cama estava arrumada e coberta com lençóis limpos. Decidi deitar e me esticar um pouco. Liguei o rádio e me joguei sobre o colchão, mas o negócio não saiu legal. Senti uma pancada nas costelas que me custou uma dor daquelas. Virei-me e passei a mão sobre o lençol. Diabos! Havia um buracão no colchão, grande, bem no meio. Nada fácil ter que dormir todas as noites sobre aquele colchão deformado. Só funcionava mesmo quando a cuca estava molhada de cana e eu caía desmaiado sobre a cama.

Não era apenas isso. As baratas dominavam o lugar. Havia várias delas por todos os cantos, dentro das gavetas, debaixo da cama, na porta de entrada. As que eu conseguia matar já não me dava mais nem ao trabalho de varre-las para fora. Deixava-as ali mesmo, esbranquiçando com o tempo. De madrugada era uma festa, eu enlouquecia de bebidas, dançando às sinfonias de Erik Satie, cerceado de baratas que se juntavam em ciranda à minha volta, comungando sob sombras de velas insinuantes.

Havia também as pacientes lesmas que seguiam seu caminho pelo meio do cômodo. Nunca tive coragem de matar uma daquelas, apenas deixava que seguisse seu caminho. Lacraias e centopéias, também. Ratinhos eu nunca vi. O único maribondo que se arriscou em invadir nosso lar rodopiou bonito quando grudou na teia que a aranha armou entre a perna e a quina de minha cama. Até que foi valente aquele maribondo, lutou até o fim, mas o fim veio ali mesmo, não teve chance.

Certa noite os cupins habitantes da porta do banheiro resolveram criar asas e foi um deus-nos-acuda, aqueles bichinhos voadores tomando todo o cômodo, não havia como dormir, nem como dançar, nem mesmo beber em paz. Eram milhares deles. Na verdade eram milhões, uma invasão sem precedentes. Grudavam nos cabelos, entravam nas narinas, por dentro das calças... mordiam minha bunda. No dia seguinte tirei a porta do banheiro fora (morava sozinho mesmo e não havia necessidade dela ali) e me livrei dela e de seus habitantes.

Até um pé de feijão se encorajou em nascer de dentro do ralo da pia do banheiro. Nunca havia visto nada igual aquilo. Ele veio sem medo, se desenvolvendo verde e vistoso. Tive todo o cuidado para manter aquele broto milagroso que vinha de dentro do ralo da pia do banheiro. O danado até que cresceu, tomou forma. Mas certo dia abri a torneira com força exagerada e o coitado se partiu em dois. Lamentei. Gostava daquele pé de feijão. Era um pé de feijão bem maluco e eu me orgulhava dele por ali. O toquinho que restou eu arranquei, joguei no vaso e dei descarga. Não queria ficar guardando lembranças.

Era tudo legal apesar de não ser.

Foi um sábado. Não havia nada de promissor programado para o restante daquele dia, então resolvi descer até o mercado e pegar alguma bebida para passar a noite. As subseqüentes noites solitárias de um rapaz jovem, de boa formação, bem cotado entre aqueles de seu meio, mas que não esperava muita coisa da vida a não ser beber e esbarrar com qualquer pirada disposta a uma noite de algum sexo e muita bebida. Madrugadas nebulosas desprendidas do sentido das coisas palpáveis, um acontecimento exterior, onde o corpo pequeno dá espaço ao grande espírito remetido a planos disjuntos onde os sentidos percorrem e se encontram por correntes elétricas aurais.

*

Ela tinha os cabelos longos e cacheados. Caminhava na calçada de tênis e roupas de ginástica, esbanjando juventude. A negrinha mais saborosa que um rapaz limpo, educado e de dentes brancos poderia conseguir. Caminhei por um momento seguindo ela a certa distância, desejando aquele corpo saudável, sonhando com a quantidade absurda de sorte que eu deveria ter ao meu lado para conseguir uma daquelas. Alcancei o mercado e entrei. Olhei o corredor das bebidas, estudei todas as garrafas sobre as prateleiras, olhei a origem de cada uma daquelas, só por curiosidade. Escolhi um conhaque de gengibre, e uma garrafa de vinho. Paguei pelas duas e tomei a rua pelo caminho de volta para casa.

A mesma garota dos cabelos longos e cacheados fazia o caminho de volta. Queria poder comer aquele rabo. Uma única foda, quente e forte, de quatro, segurando pelos cabelos dela e metendo com toda força possível. Apertei o passo e a alcancei. Ela me olhou, mas o que não entendi foi que assim que olhou ela me sorriu. Sorri de volta para ela e emendei qualquer conversa. Seguimos conversando por todo trajeto de volta. Procurei concordar com tudo que ela dizia, procurei ser gentil, educado, demonstrar bom gosto e boa formação (acadêmica, familiar, profissional e espiritual. Sabia que toda aquela literatura um dia serviria para alguma coisa). Estávamos nos aproximando do pé do morro da rua onde eu morava. Falei do dia quente e como seria bom poder revê-la mais tarde para poder continuar a promissora conversa. Ela me deixou o número de seu telefone que preferi guardar de cabeça, tentando impressiona-la, dizendo que guardava números de telefone em minha cabeça com facilidade.

*

Subi para casa e aguardei ansioso pelo encontro com a sorte grande. No início da noite fui até um telefone público e disquei o número dela. Um sujeito atendeu, mandou um “alôôôu...” maloqueiro arrastado. Perguntei por ela e ele nada disse. Ficou em silêncio um tempo. Depois virou para alguém junto dele e perguntou se morava alguém ali com aquele nome. O outro pensou... pensou... e com sua voz de maloqueiro chapado de maconha respondeu “não mora aqui nããão”. O firmeza voltou pro gancho e me disse o que o gente boa já havia dito. Desliguei. Merda. Matutei um pouco. Resolvi, então, usar o mesmo número novamente, mas com os números invertidos. Tocou. Alô? Era ela. Reconheci sua voz. Ufa! Conversamos por algum tempo. Ela continuava disposta a me encontrar. Combinamos local e hora. Voltei para casa, tomei o melhor banho dos últimos meses. Esfreguei tudo muito bem para ficar bem cheiroso. Vesti uma camisa legal, vesti as calças e calcei os sapatos. Penteei os cabelos e me fitei. Estava realmente bem aparentado. Nove
horas desci a ladeira e fui ao encontro dela no local combinado. Ela demorou uns cinco minutos. Me deu um beijo no rosto e falou de um bar legal bem perto dali. Aceitei a sugestão e fomos até lá.

Pedimos cerveja. Ela era de uma família de várias irmãs. Seus pais moravam no interior do estado, eram agricultores. Ela e suas irmãs vieram do interior para a capital para estudar e em busca de melhores condições de vida (a velha ilusão). Ela era a mais nova das cinco... ou seis. A única que não era evangélica. Não acreditava em religiões, e era até mesmo um pouco cética em relação a existência de Deus e Jesus Cristo. Havia um clima de constante tensão no relacionamento com sua família. Era como uma ovelha negra. Conversamos por muito tempo e descobrimos muitas idéias em comum. Ela me falou de outros rapazes com quem havia tentado se relacionar, mas que fugiram dela, dizendo que ela era louca, desmiolada, uma pervertida desequilibrada. Aquilo me acertou como uma flechada. Me senti quase apaixonado por aquela louca desmiolada desequilibrada. Ela falava das coisas da vida e do universo com a facilidade de quem não se importa em não ser compreendida. No mundo dos normais aquela menina era louquinha mesmo e eu estava terrivelmente interessado nela.

Depois de algumas cervejas e muita conversa ela virou-se para mim e disse, “vamos lá em casa, minhas irmãs não estão em casa e tenho uma garrafa de champagne!”. Claro que sim! Pagamos as cervejas e fomos para a sua casa.

Ela ligou o rádio e foi até a cozinha desarrolhar a champagne. Sentei no sofá da sala e esperei por ela. Um minuto depois ela voltou com a garrafa e uma caixa de bombons. Sentou-se ao meu lado e não se fez de rogada, entornou um belo gole da bebida direto do gargalo. Ela tinha estilo e personalidade. Me passou a garrafa e eu tomei o meu gole. Em seguida pus a garrafa de lado e colei minha boca na dela para o primeiro beijo. Uma delícia. Puxei o corpo dela contra o meu. Magrinha, nem uma sobra. Ela se levantou e me pegou pela mão. “Venha comigo, vamos para o meu quarto, minhas irmãs logo chegam da missa e não quero que nos vejam aqui. Aquelas crentes vão ficar buzinando no meu ouvido e não vai ser bom”. Peguei a garrafa e ela a caixa de bombons e fomos para o seu quarto. Ela levou o som da sala para o seu quarto e ligou sobre uma cômoda. Não ligou a luz, deixou que a luz da rua fizesse sua parte, um pouco de iluminação, entrando pela janela, o suficiente. Espalhou algumas almofadas pelo chão e se jogou sobre elas. Ela, então, disparou numa gargalhada sem fim. Seu corpo tremia-se todo, e aquela gargalhada ecoava por toda a casa. Fiquei de pé assistindo e achando graça da cena. De repente ela cessou e me olhou, esticou seu braço em minha direção e sorrindo, disse, “vem cá”. Deitei ao lado dela e nos beijamos. Era quente aquela noite com a ovelha negra. Ela era quente, sabia esquentar. Abri sua blusa e pus seus peitinhos para fora. Mamei nos dois e ela agarrou minha vara. Trabalhamos um no outro até que num momento seguinte eu estava com ela de quatro na minha frente, segurando seus cabelos e metendo naquela bocetinha molhada com força e gosto. Pulamos para sua cama e continuamos. Segurava seus cabelos longos e cacheados com uma mão e sua cintura com a outra. Escorregava o negócio para dentro e vlupt vlupt, uma delícia.

Estava me divertindo naquela pretinha desmiolada. Ouvi quando a porta da casa se abriu e em seguida ouvi vozes femininas. Continuei metendo naquela louquinha. Era a bocetinha mais danada que havia comido em muitos meses, rebolava em minha pica que era coisa de louco. Eu fazia com força porque era mais gostoso ainda, ouvir a cama de madeira fazendo toc toc toc. Puxava a danada e beijava em sua boca. E curvava e mamava em seus peitinhos. Ela gemia, gemia, gemia. A gente suava. Como a gente suava.

A trepada prosseguia boa, quando alguém bateu à porta.

-    Abra a porta... quem está aí com você?! - Ela pulou da cama e foi até a porta.
-    Não me incomode! Estou sozinha! Não tem ninguém aqui comigo!
-    Ouvimos o barulho, tem alguém aí com você sim! Abra a porta!

Ela virou-se para mim e disse. – Se esconda no banheiro, atrás da porta! Fiquei quieto atrás da porta que eu dou um jeito aqui.

Havia um banheiro no quarto dela e corri para lá. Me escondi atrás da porta e fiquei em silêncio no escuro. Ouvi quando ela abriu a porta.

-    Quem está aí contigo?!?!
-    Ninguém! Eu já disse! Ninguém! Está vendo alguém aqui?
-    Onde ele está? Eu sei que tem alguém aí contigo!

Permaneci quieto atrás da porta, nu de pau bem duro, ouvindo a discussão das duas irmãs. Não seria nada bom se ela me descobrisse escondido atrás da porta do banheiro.

A irmã percorreu todo o quarto e em seguida entrou no banheiro. Estava escuro. Meu pau duro olhava para ela, mas por sorte ela não olhou em nossa direção. Saiu do banheiro, mais conformada, resmungou alguma coisa e a porta bateu. Voltei para o quarto e nos atracamos novamente. Aquela boceta era louca, quanto mais eu metia mais ela gostava. Tunc tunc tunc! Ó! Ó!

Abracei ela e puxei, colei suas costas ao meu peito e pedi, “rebola, rebola… assim… mais forte!”. Ela rebolava e gemia e era uma cadelinha louca no cio e eu um bêbado sortudo que certamente não teria uma outra daquelas em meses, e estava aproveitando tudo o que podia e tirando todo o atraso. Ó como é bom! Ó como é bom!

A gente se comia com gosto, força e muito desejo. Uma trepada que certamente deixaria energia perdurando por séculos. Deus e o Diabo, os anjos e deuses gregos, figuras mitológicas, Jesus Cristo e Maria Madalena... todos comungavam em exorbitâncias sexuais naquele momento. Os astros em disparada pelo cosmo. Supernova.

Deitamos sobre as almofadas, nos beijando e relaxando. A música era boa. Derramamos mais um pouco de champagne e voltamos a nos apertar. Logo eu estava com o negócio duro de volta e louco para comer a louquinha novamente. Num movimento encaixei. Uma trepada louca. Quase insana. Insana. Não sabia o que um bêbado perdido e fracassado fazia ali com um pedacinho daqueles, mas nem me interessei em perguntar, também. Voltamos para cama e tunc tunc tunc! Tudo outra vez.

Lá de fora, de repente, cânticos de oração a Cristo ecoavam pela sala e atravessavam a porta do quarto. “Que o espírito do mal se afaste desse lar! Que Deus Pai Todo Poderoso proteja essa casa do mal que aqui habita nessa noite...”, coisa do tipo. Eu continuava comendo a doidinha. Não queria perder aquilo por nada nesse mundo. As preces se intensificavam do lado de fora. A certa altura do negócio achei que as crentes iam invadir o quarto com crucifixos na mão, avançar em minha direção e cravar a imagem de Cristo crucificado em meu peito. Imaginação fértil de bêbado. Um olho na bocetinha quente e outro na porta.

Seguimos sem perder o ritmo por mais algum tempo. Impossível dizer ao certo quanto, quando se perde a noção de tempo e espaço. Arremessados a um novo plano onde sozinhos eu e ela criávamos todo um novo universo de luz.

Foi uma noite boa daquelas. Aquela garotinha havia me oferecido uma noite fantástica. Era tarde, muito tarde, a madrugada avançava. Ela disse que era hora de eu partir. Ela me agradeceu pela noite, pela companhia, por tê-la comido com tanto gosto. Ela me disse que eu era louco, e que gostava de mim por isso.

Vesti minha roupa. Ela abriu a porta do quarto e só havia silêncio e escuridão. A luz da rua, que entrava pela janela, atravessou o quarto e chegou até a sala. Havia três moças deitas no chão sobre colchonetes. Permaneciam dormindo. Fui passando entre elas cautelosamente em direção à porta da sala. Eram todas jovens e saudáveis. Uma delas estava sem o lençol por cima do corpo. vestia apenas camiseta e calcinha. Era uma calcinha branca, pequena, trabalhada com rendas. Parecia um anjo, pura, intocada. Abaixei-me ao lado dela, com todo cuidado e silêncio. Tão angelical que me sentia purificado ali ao lado dela. Minha putinha louca apenas olhava da porta do quarto, interessado no que eu estaria disposto com aquele gesto. Escorreguei minha mão pela beiradinha da renda, senti seu calor, sua energia... então pedi a Deus resguardo. Cheguei bem perto, respirei fundo e inalei seu calor.

Levantei-me depois disso. Fui até a porta, acenei para ela e ela da porta do quarto me acenou de volta. Ganhei a rua, o sereno resfriava a noite. A cidade estava deserta, ninguém nas ruas. Quanto mais caminhava, mais frio eu sentia. Pus as mãos nos bolsos e apertei os passos. Tinha uma garrafa de conhaque me esperando em casa.

domingo, 18 de agosto de 2013

Além da íris.



nuvens excêntricas
sobem sobre meus olhos
enquanto uma ciranda
de insetos fazem seu
voo atômico
entorno da lâmpada
da rua
a névoa noturna subconsciente
atravessa minha janela
inalada pelo vento.

todos numa dança
espiritual.

dos meus olhos
brotam rosas vermelhas.

pequena menina
dorminhoca, desperte
desse sono sedado
sua pele é tão pálida
te entrego meus olhos
para manter na
memória essa
paixão anestésica.

brinco de hiena
enquanto a presa chora
sangue boca
afora.

feche seus olhos
azuis claros
e deixe-me apenas
me comportar
como um louco.

todos os peixes
famintos
nadando aquém
disso tudo.

terça-feira, 6 de agosto de 2013

Estranhos naquela noite.

           para R.

baby,
naquela noite éramos apenas dois estranhos
fazendo de taças e tragos nossa celebração
da derrota e da solidão
eu vestia meu velho sapato de cadarços poídos
minha velha calça surrada
aquela camisa que aparece nas fotos
e meu pralana, é claro
você vestia sua melhor roupa
que dava a seu corpo toda a forma
      de mulher que um homem pode desejar
nós bebemos naquela noite, pra valer
já estavamos completamente bêbados
      quando toquei sua campainha,
             diga-se a verdade
eu estive no bar horas antes, baby
escorado no balcão
deixando que o suor de tantas garrafas
fizesse minha noite
nem olhava para o lado
para não ter que encarar a face estúpida
de toda aquela gente tatuada
foi quando tocaram meu ombro
e no meu ouvido disseram que você estava
      em casa
            sozinha
                  esperando por mim
e não passávamos de dois estranhos...
estranho, isso
eu deixei o bar e fui até seu endereço
quando cheguei na rua indicada
parei o fusca do amor
da janela você chamou, alvarêz!
sorri para você, encostei o do amor, subi
e toquei sua campainha
      estúpido demais para fazer uma serenata
bêbado demais para enxergar além
e entender a ternura daquela paisagem
you, on the balcony, 
      over your elbows, smiling to me
continuamos bebendo naquelas horas perdidas
a madrugada já era um cúmulo
qualquer prece seria um absurdo
fizemos, então, o que seria o mais ponderado
bebemos,
      bebemos,
            bebemos
o que foi mesmo que você pôs para a gente ouvir,
      lou reed
            ou bob dylan?
tanto faz, a gente bebia
e fizemos, então, o que se espera de dois estranhos
sozinhos numa madrugada sem fim
fazendo de taças e tragos a celebração
da derrota e da solidão
baby, me encaixei em você
e deixei que o suor de seu corpo
fizesse nossa noite
      nossa madrugada
            nossa alvorada
até que os pássaros anunciassem o novo dia
numa sinfonia estridente e louca
lembrando que somos todos estranhos
e o que fica, geralmente, é a tristeza
      abrigada
navegando nesse rio que nunca acaba.

quinta-feira, 1 de agosto de 2013

Não a melhor forma de passar um domingo.

Era uma tarde de domingo e algo fantasmagórico me assombrava. Não sabia o que realmente me punha naquele estado. Mas estar de ressaca naquele apartamento vazio e silencioso, às vésperas de mais uma longa semana de trabalho, sentindo o ar frio da rua que entrava pela janela, criava em mim uma estranha sensação de fim dos tempos (fim para mim, pelo menos).

Vomitei mais um pouco, peguei um João Antônio e desci até a praça para tomar ar puro. Dei uma volta inteira na praça indeciso em qual banco me sentaria, indeciso até mesmo se ficaria na praça ou faria outra coisa qualquer que ainda não sabia o quê.

Depois de completar uma volta inteira na praça, caminhei mais um pedaço e fui me sentar na escadaria da catedral metropolitana. Abri o João Antônio em uma página qualquer e antes que começasse a lê-lo percebi pelo canto dos olhos que minha calça estava toda amassada. Deixei o João de lado e estudei melhor minha calça, também minha camisa e foi só então que lembrei que a roupa que estava vestindo era a mesma com a qual havia saído na noite anterior, e que havia dormido e acordado com ela e que não havia vestido outra desde o dia anterior.

Levantei e caminhei de volta em direção à praça. Os bêbados e mendigos se espalhavam por lá, como de costume. E da forma como me encontrava parecia ser mais um deles, só não estava encardido como eles. Fiz uma caminhada pela praça, a fim de bombear ar puro para meus pulmões. A sensação de fim dos tempos já havia se dissipado, só precisava, mesmo, de uma boa refeição naquele momento, já que a última também datava do dia anterior. Não tinha nada do que comer em casa, e também não tinha dinheiro nos bolsos. Concentrei-me no ar que entrava pelas narinas tentando me convencer do quanto nutritivo era aquilo. Seguia absorto nesses pormenores quando me deparei com uma mocinha sentada em um dos bancos da praça. Me aproximei e sentei ao lado dela. Olhei o piercing no seu nariz, depois estudei seus seios e finalmente fiz um apanhado geral dos pés a cabeça, e nada mal. Virei a capa do João Antônio e fingi ler o que havia na orelha. Só fingi, porque minha cabeça estava tomada pela moça sentada ao meu lado. Percebi pelo canto dos olhos que ela me olhou. Fingi estar concentrado na orelha do João Antônio e deixei que ela me olhasse. Assim que ela deixou de me olhar, olhei para ela novamente e para seu piercing.

- Não dói? – Perguntei. Ela me olhou e completei. – Colocar esse negócio no nariz?

Ela sorriu e respondeu. – Não, eles passam um spray anestésico e não se sente nada.

- Gosto de garotas que usam um desses no nariz, ou na sobrancelha, ou no umbigo. Da um toque de classe. – Ela sorriu sem dizer nada e eu continuei. – Como se chama?
- Melissa.
- Mora aqui no centro?
- Moro nos Ingleses, estou esperando um amigo me ligar, ele mora aqui no centro e combinamos de nos encontrarmos aqui na praça. Mas já estou esperando há uma hora e ele ainda não me ligou. Deve ter esquecido de mim. Droga. – Ela fez uma pausa, tirou um cigarro da bolsa e acendeu. – E você, como se chama?
- Alvarêz. Dewïzqe.
- Como?
- Alvarêz Dewïzqe.
- Nunca ouvi um nome como esse. Uhm. Aceita um cigarro?
- Não, obrigado.
- Onde mora?
- Aqui no centro, bem ali. – Disse eu, apontando para a rua onde ficava o prédio que eu morava. – Num prédio antigo ali na Anita Garibaldi.
- Uhm. Com quem você mora?
- Hoje estou sozinho. Vamos até lá conhecer meu apartamento.
- Claro que não! Eu nem te conheço. E se você for um estuprador e quiser me violentar?

Olhei seus seios e depois suas pernas. Ela vestia uma saia jeans bastante curta que exibia bastante das coxas grossas. – É, pode ser que eu seja. – Disse a ela.

Conversamos por um bom tempo. Ela me contou que era de algum lugar distante que não me recordo. Morava nos Ingleses com uma irmã e o cunhado. Pelo que entendi não trabalhava nem estudava. Talvez mais uma vadiazinha trocando foda por dinheiro. Até ensaiei perguntar a ela quanto cobrava para ir comigo até meu apartamento, mas desisti.

- Qual sua idade?
- Dezoito. – Disse ela. – E você?
- Eu tenho vinte e seis. Você tem coxas bem grossas, gosto delas.

Ela olhou suas coxas e sorriu. – Obrigado. – Em seguida levantou o rosto e olhou para mim. – Foi mentira minha, não tenho dezoito, tenho quinze anos. – Ela esperou algum comentário meu, mas apenas sorri. – Droga. Acho que meu amigo me esqueceu.

- É, parece que sim.
- Vamos até seu apartamento? Estou menstruada e preciso trocar meu absorvente.
- Vamos. – Levantamos e saímos caminhando em direção à Anita Garibaldi. Subimos o elevador e entramos no meu apartamento. Ela olhou em volta, curiosa e em seguida me perguntou onde ficava o banheiro. Apontei, mostrando a direção. Ela caminhou até o banheiro, entrou e fechou a porta. Pude ouvir o ruído do trinco trancando a porta. Larguei o João Antônio sobre o sofá, liguei o rádio e pus música.

Alguns minutos se passaram até que ela saísse do banheiro. Vários minutos, na verdade. Não sabia que para trocar um absorvente era preciso todo aquele tempo. Pensei que talvez ela pudesse ter aproveitado para aliviar os intestinos, também. Não importava. Quando a porta do banheiro se abriu eu estava no meu quarto, a chamei pelo nome e ela veio. Sentou-se ao meu lado na cama e pude apreciar novamente aquele belo par de coxas. Ela viu que eu olhava suas coxas e puxou a saia ainda mais para cima, “para que você possa ver toda ela”, disse. Fiz um movimento rápido e tentei me jogar para cima de Melissa e beijá-la. Mas ela foi mais rápida que eu e num impulso pulou para fora da cama e ficou de pé.

- Não! Nem venha! Estava só te mostrando minhas pernas. Faça isso de novo e eu grito!
- Ei baby, relaxa. É que não pude resistir. Não é fácil ficar olhando um par de coxas como esse bem ao meu lado e não fazer nada. E no mais você é um bocado provocante.
- Você me acha provocante?
- E como!
- Então o que acha disso. – Ela se pôs a dançar bem na minha frente, rebolava e girava, chegando cada vez mais perto. Bem perto. Eu continuei sentado na cama encostado na parede. Ela dançava e suas pernas roçavam em minhas calças.

Deixei que ela me provocasse. Permaneci imóvel, apenas salivando e lambendo os beiços. Então quando ela ficou de costas para mim remexendo os quadris, estiquei meu braço esquerdo e alisei uma de suas coxas, entre as duas pernas. Ela jogou a cabeça para trás e deu uma gargalhada. Mas não houve tempo nem para que me jogasse para cima dela e novamente ela pulou para longe e virou-se olhando para mim, séria.

- Você é bem folgado, sabia? – Preferi não dizer nada. – Quer que eu grite? Eu grito. Vou até a janela e grito ‘tarado!’ bem alto. – Eu sorri para ela. – Ta rindo por que? Acha que não posso fazer?
- Sei que você é capaz de fazer. Relaxe. Estou apenas sorrindo para você.

Ela tirou um cigarro da bolsa e acendeu. – Se importa se fumar aqui?

- Não.
- Você tem um belo sorriso.
- Obrigado.
- Você toca punheta?
- Sempre que não tenho uma boceta.
- Deixa eu ver seu pinto. Me mostra como você faz.

Desabotoei a calça, desci a braguilha e pus ele para fora. Ela olhou para ele e sorriu. Manteve o olhar fixo nele por todo o tempo. Segurei o bicho e toquei uma na frente dela, suavemente. Ela olhava meu pau com curiosidade, como se visse um pela primeira vez e estivesse agradavelmente surpresa com o que via.

- Ta bom, já vi. Agora pode guardar. – Disse ela, sem tirar os olhos dele.
- Calma baby, deixa que está bom.
- Não quero mais ver isso.
- O que te incomoda, nunca viu um desses?
- Claro que já.
- Quer segurar?
- Não, guarde.
- Pegue, toca uma punheta aqui para mim. Não seja criança.

Soltei meu pau e ela se aproximou. Ajoelhou-se bem na minha frente, entre meus joelhos, segurou o bicho e mandou uma punheta. Tinha a mão macia e quente. E estava bom a valer. Já contemplava a possibilidade daquela punheta virar um boquete. Mas num pulo ela pôs-se de pé novamente e se afastou. “Agora guarde”, disse. Guardei o bicho e fechei as calças.

Ela sentou-se ao meu lado novamente e disse, “por um momento tive vontade de te beijar na boca”, “então beije”, respondi. “Agora não tenho mais vontade”, disse ela. Levantou-se da cama, pegou sua bolsa e caminhou até a porta do quarto. “Já vou”, disse ela e sumiu pelo corredor do apartamento. Levantei da cama e fui até a sala. Lá estava ela, de pé postada ao lado da porta. Tirei as chaves do bolso e abri a porta. Ela se inclinou em minha direção, deu um beijo em minha boca, disse tchau e foi embora.

A tarde caminhava para seu fim. Senti vontade de um banho. Senti-me um tolo.

No banheiro o cesto de lixo transbordava de papel higiênico amassado em pequenos rolinhos. Havia vários deles espalhados no chão também, em volta do cesto. Deixei como estava. Tirei minhas roupas e fui para o chuveiro. Não tinha sabonete. Fui até a área de serviço e peguei um pedaço de sabão para lavar roupas que estava sobre o tanque. Voltei para o banheiro e tomei um banho quente e relaxante. Esqueci que era um tolo.

Mais tarde descobri que Melissa havia deixado seu maço de cigarros sobre minha cômoda. Havia sete deles ainda. E antes de ir dormir fumei todos os sete.

domingo, 21 de julho de 2013

Tina Tarja-Preta.

Não vou dizer que foi desperdício de tempo aquelas poucas semanas em que estive com Tereza. Houve ocasiões em que pudemos travar ótimos diálogos sobre assuntos dos mais incríveis, íamos do metafísico ao cósmico numa sintonia comovente. Pena que essa sintonia só ocorria nos poucos momentos em que a encontrei com a cuca funcionando. Na maior parte do tempo Christina se apresentava completamente fora de si, numa mistura louca de nicotina, álcool, substâncias alucinógenas e remédios tarja preta. Aquela advogada engolia desses comprimidos com se fossem balinhas tic-tac, numa explosão de espasmos e frases desconexas capaz de deixar qualquer um louco estando ao seu lado. Colocava alguns comprimidos na mão e num lance jogava tudo para dentro da boca, emendando logo em seguida um caprichado gole de vinho ou cerveja. Antes disso uma boa tragada no baseado, e mais uma depois. E cigarros o tempo todo. Era de dar dó assistir aquela advogada brilhante, respeitada e requisitada, se destruindo daquela forma. O tipo de experiência aventureira que me deixa aborrecido com a vida, me sentindo como se preso dentro do vagão de trem que partiu do nada rumo a lugar nenhum.

Até poderia ter sido magnífica a última noite em que estivemos juntos. Eu estava passando uns dias na pousada de um amigo europeu que mora há alguns anos em Florianópolis. Ele havia viajado para o velho continente e me pediu que passasse esses dias morando no lugar. Uma casa luxuosa, com uma ampla sala de três ambientes, sofás de todos os tipos para todos os gostos, lareira para as noites frias e piscina para os dias quentes. Um convite às boas coisas da vida.

Nessa noite tirei o Fusca do Amor da garagem e peguei Tereza Christina em sua casa, fomos a um bar tomar alguns chopes de trigo e em seguida fomos curtir a noite na sala da pousada. Já havia deixado algumas garrafas de vinho esperando por nós. Desarrolhei a primeira e nos servimos. Acendi a lareira para espantar o friozinho que fazia naquela noite. Coloquei um show do Coldplay para garantir o ritmo da noite. Para ficar ainda melhor liguei o retro-projetor que se encarregava de lançar a apresentação da banda numa das paredes daquela sala fantástica. O baseado já estava fechado sobre a mesa e então tudo o que nos restava fazer naquele momento a gente fez, nos jogamos num dos sofás e em segundos já estávamos sem roupas, Christina sentada em cima de mim, cavalgando, me beijando, fazendo com que sua presença valesse a pena e com que nada mais tivesse importância.

Terminamos e nos vestimos, servi mais vinho. A banda tocava Trouble, então aproveitei e tirei Tereza Christina para dançar. Aquela noite estava boa a valer. Incrível. Ela havia me prometido que deixaria os comprimidos tarja preta de lado e que iríamos nos divertir para valer. E estávamos, realmente. Acendi o baseado para nos aproximarmos ainda mais do cosmo e tudo parecia irradiar uma energia impossível de descrever, apenas sentir. Abri a segunda garrafa e fomos para o outro sofá, trocar carícias e ótimas idéias, curtir a vida.

A noite prosseguia e a gente aproveitava nessa mistura de sentimentos e sensações. Num plano astral bem diferente do que aquele que a ordinariedade do dia-a-dia costuma nos oferecer. Tereza então se esticou e alcançou sua bolsa, que estava jogada no canto do sofá. Abriu e sacou três cartelas de comprimidos.
- O que você está fazendo?
- Não consigo ficar sem meus comprimidos, Alvarêz.
- Mas você havia me dito que iria deixa-los de lado essa noite.
- To de boa, vou tomar só esses, não vai rolar nada, é só para seguir a prescrição.
- Não há prescrição, sua maluca, nenhum médico iria prescrever um bombardeio de remédios tarja preta dessa forma. – Eu disse e comecei a rir. Ela, também, gargalhou e num lance encheu a boca daquelas porcarias.

Não demorou muito e Christina começou a sair de órbita. Seus olhos vidrados não se fixavam em nada, ela estava em outro lugar. Dizia muita coisa, mas nada fazia muito sentido. Puxei ela para o sofá para mais uma trepada, mas ela parecia rodopiar sobre mim, era como fazer sexo com uma entidade espiritual que acabara de se materializar à minha frente, mas que eu não conseguia alcançar um contato físico definitivo. Parecia me escapar pelas mãos. Era como se minha pica fosse a chave do portal para um novo mundo, e ali, conectados, nos lançávamos a planos longínquos. Fazíamos a ponte entre dois mundos paralelos, ela lá e eu aqui.

Depois disso as coisas foram ficando cada vez pior. Tereza Christina caminhava pela sala como um zumbi, esbarrando em tudo, e pondo em risco a sua integridade e a integridade do lugar. Pobre advogada brilhante. Restava-me ficar de olho nela o tempo todo. Até que finalmente enchi o saco de tudo aquilo e a levei para o quarto para dormirmos.

Acordamos no dia seguinte e ainda na cama fiz alguns comentários repreendendo sua atitude na noite anterior. Tereza nada dizia. Ordenei que se vestisse para que eu fosse levá-la em casa.

Entramos no Fusca do Amor e fizemos todo o percurso até sua casa sem trocar mísera palavra. Quando estávamos a cerca de um quilômetro de sua casa ela me pediu que parasse. Queria descer e ir caminhando até sua casa, para aproveitar o sol da manhã. Atendi seu pedido e “Adeus e boa sorte” foram minhas últimas palavras a ela.


Agora estou aqui, sentado no banco desse coletivo, ouvindo a conversa do casal sentado a minha frente, eles me fazem lembrar de Christina. Engraçado, pois pelo que me parece eles não se conheciam até agora. Ele entrou, pediu licença e sentou ao lado dela. E o diálogo que esses dois passaram a travar tem o mesmo tom caótico de quando eu e Tereza nos encontramos pela primeira vez, num bar. De forma irônica e autoconfiante dizíamos um para o outro coisas do tipo “quem te garante que eu não sou um maluco?” ou “eu vou possuir o seu coração” ou “vou me apaixonar por uma louca como você?” ou “e você não corre o risco de se apaixonar por mim?” ou “você insiste porque você gosta de mim”. Deu no que deu.

Nico, ela está ouvindo Nico e emprestou os headphones para que ele ouvisse, também. Pois é... E o que será que Christina anda ouvindo agora?

segunda-feira, 17 de junho de 2013

Asas.


Se fosse pedir por um milagre escolheria ter asas, leves como algodão e fortes o bastante para conseguir carregar esse meu corpo pelo tempo que fosse preciso.

Acordei naquele dia e Deus! Como eu queria um par de asas que pudessem me tirar da cama. Deus, eu não passava de um pobre e sujo, bêbado incorrigível. Era fim de mês, meus proventos já haviam evaporado ao longo do mês, e as minguadas notas de Real que eu tinha no bolso deixara no bar na noite anterior.

Levantei da cama nauseado. Pronto para vomitar todo o ar fedorento do meu estômago vazio. Sai do quarto e me arrastei pela sala tentando conectar alguma idéia na cabeça inchada. Não atinava nada, e num movimento agarrei a fechadura e pulei para fora do apartamento. Desci pelo elevador e ganhei as ruas, mero impulso inútil e desesperado em busca de ar. A cabeça continuava rodando, claro, e a sensação de que o mundo em volta iria se apagar palpitava intermitentemente. Coloquei as mãos nos bolsos e caminhei cambaleante até a praça.

Havia algum tipo de manifestação em frente à praça. Sentei numa mureta que me apareceu na frente e fiquei assistindo ao protesto. Eles pediam alguma coisa e apitavam, sei lá o que era, tudo que eu pedia eram asas, nada mais. Minhas mãos continuavam guardadas nos bolsos. Me olhei. Saquei que vestia a roupa da noite passada e conclui, de forma óbvia, que a roupa que havia vestido na noite passada era a mesma roupa com que havia dormido e que continuava vestindo. A diferença é que estavam engomadas antes e agora completamente abarrotadas.

Aqueles apitos do pessoal que protestava estavam me incomodando. Levantei de onde estava sentado e segui cambaleante pelo centro da cidade.

Era onde eu morava na época, no centro da cidade. Num apartamentozinho imundo de aluguel barato. Por sorte arrumei esse apartamento justamente num ponto do centro da cidade cercado de bares, além de uma casa de massagem que funcionava durante o dia e um puteiro que abria depois das nove, de segunda a segunda.

Segui caminhando sem rumo, sei lá por que. Talvez para poder sentir-me vivo, apesar de a sensação maior era mesmo de vontade de vomitar ou morrer. Mas bêbado e medroso fiz por onde me sentir vivo.

No meio de toda aquela gente eu provavelmente me igualava ao pior mendigo daquelas ruas. Torto, abarrotado e vacilante. De repente num impulso entrei numa loja de artigos chineses a preços populares. Nem sei por que fiz isso, mas posso afirmar categoricamente que não foi uma boa idéia. A loja além de entulhada de pessoas era forrada de itens de todos os tipos para todos os lados. Aquela combinação de pessoas multiplicadas por coisas de plástico fez minha cabeça querer estourar, a ponto de quase cair bobo no meio da maldita loja. Por sorte consegui deslizar para rua. Mãos nos bolsos e testa suando.

Não demorou para que eu sentisse muita fome. Cutuquei o fundo dos bolsos e encontrei uma nota de hum Real. Era um Real, mas brilhava feito ouro frente a meus olhos. E o medo de perder aquela nota foi tamanho que a dobrei duas vezes e guardei na meia. Dali segui em direção ao supermercado para procurar qualquer coisa que eu pudesse comprar com aquela nota e que servisse para me forrar o estômago.

Percorri os corredores do supermercado. Até que no corredor das massas encontrei um pacote de macarrão espaguete em promoção por 89 centavos. Sim, um pacote de macarrão espaguete por 89 centavos! Me sentia o homem mais feliz do mundo! Catei um pacote da prateleira e segui feliz rumo ao caixa.

A menina do caixa me olhava. Pensei “quem sabe eu não aparente tão mal assim, ela me olha e talvez eu seja um cara bonito”. “Oitenta e nove centavos”, disse ela. Então me abaixei e tirei a nota de um real de dentro da meia. Nem havia percebido, mas o calor me fez suar dentro da meia e a nota de um real estava ensopada de suor. Puxei a nota com a ponta dos dedos e assim a entreguei a bela menina do caixa. Ela segurou a nota e num impulso quase soltou. Me olhou novamente e eu sorri para ela. Ela jogou a nota dentro da caixa registradora e junto da nota fiscal me entregou uma moeda de dez centavos. Pensei no um centavo, mas resolvi deixar de lado, ela já havia feito eu me sentir deveras bem com aquele jeito de me olhar, então decidi não ser inconveniente por causa de um mísero centavo. Peguei meu macarrão e voltei para o apartamento pensando nela, que talvez a deveria ter convidado para almoçar comigo.

Sai do elevador e tomei o corredor até meu apartamento. A porta estava aberta. Acho que deixei aberta quando saí, pensei. Fui até o banheiro me olhar no espelho. Uma remela indecente me ocupava o canto do olho esquerdo. Abri a torneira e lavei o rosto. “Merda” pensei “será que foi por isso que a menina do caixa não parava de me olhar? Só pode ser” concluí.

Fui até a cozinha e vasculhei o refrigerador e os armários. Encontrei meia cebola e alguma manteiga. E foi o suficiente para eu preparar uma panela de macarrão daquelas! Servi-me um prato caprichado de macarrão acebolado, tão quentinho, nossa, meu coração se encheu de amor. Quis voltar ao mercado e oferecer alguma declaração de amor aquela bela menina do caixa, recitar um poema, cantar uma canção romântica. Naquele instante entrou pela janela, de algum apartamento vizinho, um perfume maravilhoso de asinhas fritas de galinha. Deus! Como eu queria ter asas!

Por fim tirei os sapatos e voltei para cama, torcendo que os próximos três dias passassem voando para enfim chegar o dia do pagamento.

domingo, 2 de junho de 2013

Vômito apaixonado.

O telefone tocou e era Dududu dizendo que Talita e Júju estavam com ele, que havia comprado vinhos e cigarro, e que estavam pensando e ir lá para casa. Eu disse, tudo bem.

Dududu andava louco para torrar sua coisa dentro de Talita. Eu andava louco para torrar minha coisa dentro de Talita, e de Júju, e de qualquer outra mulher. Sempre com essa coisa bêbada e suplicante vibrando no meio das pernas.

Era tarde da noite e não demorou até que Dududu, Talita e Júju batessem à minha porta. Na época eu morava no segundo piso de uma casa, no centro de Garopaba, onde o senhorio morava no andar de baixo. Uma casinha de um quarto, cozinha e banheiro. Ensolarada e bem ventilada. O lugar mais decente que havia morado nos últimos anos. (o único lugar decente, para dizer a verdade.)

A noite seguia daquela forma que você imagina. Bebida, conversa, bebida, risada, bebida, música, bebida, cigarros, bebida, bebida, bebida. Duas picas, duas vaginas, e toda a milenar história do relacionamento entre homens e mulheres sendo recontada de novo e de novo.

O telefone tocou. Era o senhorio pedindo gentilmente que fizéssemos menos barulho. Tudo bem, disse eu. Quando desliguei, Dududu estava segurando uma das mamas de Talita e beijando forte na boca. Júju estava deitada no chão com aquelas duas pêras apontando para o alto. Pulei para cima dela e beijei sua boca. Depois pus ela sentada, peguei uma garrafa cheia e encostei o gargalo na sua boca. Ela fez biquinho e eu virei a garrafa. Deixei que dessa uma boa mamada e foi minha vez de beber. Júju me dizia umas coisas ao ouvido, mas eu não entendia nada do que ela dizia. Talvez estivesse pedindo que a beijasse novamente, ou que encostasse meu dedo médio em sua vagina, ou que queria ir ao toalete urinar, e eu não estava a par de nada disso. Resolvi pagá-la pelo braço e levar para o lado de fora.

Lá fora prensei Júju contra a parede e beijei sua boca. Dei um apertão no seu rabo carnudo e ela gemeu. Júju desfez o beijo e me falou novamente ao ouvido, dessa vez pude entender o que dizia. Quero vomitar! Que bom, porque eu também queria e assim sendo poderíamos vomitar juntos. Segurei-me em uma pilastra, estiquei a cabeça e mandei um jato de vômito, lá embaixo, na porta do senhorio. Júju fez como eu fiz e mandou seu jato, também. Segurei em sua mão e disse a ela que se abaixasse e se apoiasse na mureta da escada. Fiz com que entendesse que eu já tinha enxurradas de vômito de experiência, e que agindo daquela forma ela vomitaria mais tranqüilamente. Ela se abaixou e eu abaixei junto com ela, nos apoiamos na mureta e vomitamos juntos. Um pouco do caldo escorreu sobre seus cabelos. Peguei-os e ajeitei sobre seus ombros. Ela tinha cabelos tão lindos e sedosos, tão perfumados. Vomitamos juntos, novamente. Seus olhos estavam cheios de lágrimas. Abracei-me a ela. Novamente despejamos um jato de vômito, lá embaixo. Chuááá... Esta se sentindo melhor? Ela balançou a cabeça afirmativamente e despejou mais um, e eu outro. A madrugada era fria e estrelada. Ela se abraçou a mim e ficamos assim, comoventemente juntos, aquecendo um ao outro, vomitando.



Dududu e Talita moram juntos. Júju desistiu de Alvarêz e se especializou em homens casados. Alvarêz continua gostando de torrar sua coisa dentro de uma carne quente de mulher. E a vida segue.

sábado, 11 de maio de 2013

Gostosa e fumegante.

A tarde de sábado ia lá por seus meados, quando lhe atacou a diarréia. O negócio voltou no dia seguinte, mais forte, debilitante. Estranhamente, foi só na quinta-feira subseqüente que a vontade voltou a corteja-lo, mas dessa vez veio como de costume, de aparência saudável, boa textura, apesar do tamanho. Ledo, então, passou a mão no telefone e discou.

- Pizza-rápida, boa noite!
- Ei, uma gigante de mussarela.
- Onde?
- Travessa Lua Bonita, 145.
- Certo, em dez minutos.
- Ok.

Ledo foi até o refrigerador, puxou uma lata e foi com ela até o sofá. Já havia alcançado meia lata, quando sentiu vontade de cagar. De novo. Correu até o sanitário, baixou as calças, sentou e deixou o negócio fluir. E vinha, vinha, vinha. Muita coisa. A campainha tocou uma vez. Ledo berrou lá do banheiro, "aguarde!". A campainha tocou pela segunda vez, "ei! Só um minuto!". A campainha tocou pela terceira vez e Ledo resmungou, "merda".

Quando, enfim, conseguiu livrar-se de todo o dejeto, correu até a porta, mas já não havia mais ninguém. Foi até a sala, puxou o gancho e discou, novamente.

- Pizza-rápida, boa noite!
- Minha pizza gigante de mussarela!
- Senhor, nosso entregador esteve no endereço indicado, mas...
- Sim, foi o sanitário, você entende, esse quando chama não tem como escapar.
- Ó, sim senhor. Sua pizza chega num instante.
- Ok.
- Senhor?
- Sim?
- Está se sentindo bem?
- Melhor que há dez minutos atrás.
- Faz sentido, uma boa noite.
- Obrigado.

Foi num instante, matou a outra meia lata e a campainha tocou. Ledo foi rápido até a porta e lá estava o entregador com sua pizza.

- Sua pizza.
- Obrigado.
- Estive aqui ainda pouco, toquei três vezes, mas ninguém atendeu.
- Sim, foi o sanitário, você entende, esse quando chama não tem como escapar.
- Compreendo.
- Tome, e fique com o troco.
- Obrigado, boa apetite.
- Obrigado.
- Senhor?
- Sim?
- Está se sentindo bem?
- Com bastante fome, mas logo passa.
- Com certeza.
- Obrigado.

Ledo levou a caixa até a cozinha e pôs sobre a mesa. Tirou a tampa e lá estava ela, amarela e fumegante. Água na boca. Buscou duas latas no refrigerador, prato-garfo-faca no armário e serviu-se.


Era início de madrugada. Ledo sesteava sobre o sofá da sala, pernas esticadas sobre a mesa de centro, cachimbo aceso em uma das mãos e uma lata na outra. Soltou o cachimbo e pegou um jornal de dias, que estava jogado no chão. Abriu nos classificados. Procurou pelos anúncios de meninas de programa. Sheila, Dani, Katy, Soraya. Olhou o número, passou a mão no telefone e discou.

- Olá.
- Quem fala.
- Soraya, toda sua.
- O Nilson está?
- Não tem nenhum Nilson aqui, querido.
- Não? Quem fala?
- Soraya.
- Você é mulher do Nilson?
- Não tem nenhum Nilson aqui!
- Esse número é do Nilson.
- Não enche! - Clek.

Paula, Luci, Flávia, Vanessinha. Deu uma boa virada na lata, passou a mão no telefone e discou.

- Olá.
- Quem fala?
- Soraya.
- O Nilson está?
- Qual é cara? Ta querendo tirar uma?
- Mas esse número sempre foi do Nilson. Ele não está?
- Estou eu e minhas amigas. E você está atrapalhando nosso trabalho.
- É um call-center?
- Não querido, somos garotas de programa... Que tal?
- Ah... Pode ser. Você vem até aqui?
- Qual o endereço?
- Travessa Lua Bonita, 145.
- Em dez minutos estarei aí.
- Nossa, tudo nessa cidade chega em dez minutos.
- O que disse?
- Esqueça, estou esperando.
- Escute...
- Sim?
- Está se sentindo bem?
- Cheio de tesão, venha depressa!
- Já estou saindo.
- Obrigado!

Dez minutos depois a campainha tocou. Ledo levou Soraya até o quarto e pôs sobre a cama. Tirou sua roupa e lá estava ela, amarela e fumegante. Água na boca. Buscou duas latas no refrigerador, preservativos no armário e serviu-se.

segunda-feira, 15 de abril de 2013

Não abra mão de uma fodinha.

- Amor?
- Sim?
- Soltei um peido.
- Ó, tudo bem, não me importo. Todos nós fazemos isso.
- Sabe que eu te amo?
- Sim, querida. Também te amo. Venha aqui. Quero dar uma foda em você.
- Já demos uma dessas duas horas atrás.
- Mas quero dar outra, uma fodinha, venha.
- Você sempre quer dar "fodinhas!", por que não acumula essas suas fodinhas para uma grandiosa foda daqui a dois dias? Assim você acaba banalizando nossas trepadas.
- Amor, deixe disso e venha, tenho algo louco por fazer um rebuliço aí entre suas pernas.
- Era assim, também, com Elizabete? Seguidas "fodinhas"?
- Era.
- Mentiroso! Elizabete me contou de suas "trepadas monumentais", como ela mesmo definiu.
- Por que você tem sempre que falar em Elizabete? Ela já era. O quente agora é você!
- Você fala de uma maneira como se eu fosse uma vagabunda.
- Você é que sempre encontra argumentos para entrar em um bate-boca!
- Você não falava assim comigo quando estávamos namorando.
- Você não criava discussões quando estávamos namorando!
- Você fala como se a culpada disso tudo fosse eu.
- Você é a culpada disso tudo!
- Seu imundo! Como pode! Vá embora! Saia da minha frente!
- Sua maluca! - Disse ele, pegando as chaves do Volks e saindo porta afora. Entrou no carro, deu partida e seguiu guiando pela cidade. Meia hora depois parou em frente a um telefone público. Colocou o cartão e discou. - Elizabete, sou eu... Sim, tudo. Quer dizer, ela me colocou na rua novamente... Sim eu sei, mas o que posso fazer?... Esqueça isso... Escute, que tal uma fodinha?... É? Em oito minutos estarei aí.

segunda-feira, 11 de fevereiro de 2013

Pêras, melões e o vinho da juventude.

Esperar até as seis da tarde para o dia começar a valer?

Isso é vida?

Que merda.

Seis da tarde, fim de expediente na Cosmodemoniaca. Num pulo deixei meu posto e em segundos ganhei a rua. Segui feliz da vida até o ponto de ônibus. O ônibus parou e eu subi. Paguei minha passagem e encontrei um lugar vago depois da catraca.

A lata de sardinhas seguiu parando de ponto em ponto, deixando e tomando passageiros.

A primeira putinha dessa história tomou o ônibus cinco ou seis pontos depois do meu. Era uma coisinha cor-de-leite, dezessete aninhos, no máximo. Uma tetéia. Que boneca. O ônibus não estava cheio e a danada resolveu ficar postada de pé bem do meu lado, assim, se esticasse o braço tocava a pombinha dela. E com aquelas roupinhas curtinhas, malvada. Estava fazendo de sacanagem, ah menina vadia. Te dou um monte de beijo e depois meto bem devagar, só pra não machucar. Juro! Que bundinha linda, redondinha. Vontade de lamber. Um par de tetinhas, Deus caprichou cheio de más intenções. Duas perinhas bem fresquinhas, direto do produtor ao consumidor. Que pecinha era aquela menina. Ali, parada bem do meu lado, como que me dizendo, olha tio! Que gostosinha estou ficando! Vem cá, vem. Senta no colinho do titio, te faço carinho e depois ensino uma brincadeira toda nova. Dói um pouquinho no início, mas depois é só diversão.

Eu estava tomado. Aquele pedacinho de juventude havia inundado meus pensamentos. Se pego nunca mais vai ser a mesma, transformo essa menina. Vai virar borboleta, rapidinho. Que oferecida, como pode. Florzinha perfumada. Eu a comendo com os olhos, e ela ali, tão dona da situação. Cheirinho de xota novinha, hum, início de feira. Botão virando flor.

Meu ponto era o próximo. Hora de dar tchau à minha vadiazinha de leite. Levantei e puxei a campainha. Ela saiu de onde estava e caminhou para os fundos do latão, ficou parada na frente da porta de saída. Por Deus que sim! Parei atrás dela e cheirei seus cabelos. Minha pica palpitava de emoção, danada duma taquicardia na pica. Tum tum. O ônibus parou, abriu a porta e descemos nós dois.

Meu docinho foi caminhando à minha frente. Eu a segui, a cinco metros de distância. Na esquina ela atravessou a rua e eu parei, esperando que um carro passasse. Depois atravessei, também. Apressei o passo para alcançá-la novamente.

Na esquina seguinte eu teria duas sortes. Ou ela seguia em frente ou dobrava à direita e entrava numa rua pouco movimentada. Dobrou à direita. Oi boneca. Ela me olhou e continuou caminhando. Maldade o que você fez comigo naquele ônibus. Nossa, era ela de verdade, ali, lado a lado comigo, tão frágil. Passei a mão nos seus cabelos, ajeitei-os atrás da orelha, para poder olhar melhor seu rosto. Minha namoradinha, vou te mostrar para todos, olha que coisinha eu tomei para mim! Sim, ensinando tudo direitinho. É uma boa menina, uma malandrinha. Como se chama, minha flor? Ela não respondeu, apertou o passo e tentou se afastar. Apertei meu passo, também, e a alcancei. Tu é muito gostosinha, isso sim, vou te dar uma mordida. Ela parou bruscamente, virou, cortou entre dois carros e atravessou a rua. Não fui atrás. Ei! Ei! Volte aqui! Não seja tão vadia! Te como com calma, é, devagarzinho, não dói! Prometo! Sua piranhazinha!!!

Merda, e agora, o que fazer da vida? Putinha desgraçada, tirou uma com minha cara. Só pode. Bonito. Segui meu caminho, até meu apartamento. Bati uma punheta, mas claro, de nada resolveu. Puxei a garrafa de vinho e mamei no gargalo. Louco da vida. Pus Lou Reed no estéreo. Mamei meu vinho da juventude. Apelei, então, para a segunda putinha. Uma vadiazinha que havia conhecido uns dias atrás, e que gostava de aparecer para umas trepadas e umas doses. Liguei para ela e ela veio. Sentamos juntos no sofá e ela se jogou para cima de mim. Abriu minha braguilha e lambeu meu pirulito. Fechei os olhos e pensei na florzinha. Ela subiu de volta e escorreguei minha mão por debaixo de sua saia. Botei um, depois dois e por fim três dedos na xota dela. Bem molhadinha. Mexia no meio das pernas e lambia sua língua. Ela tinha duas tetas bem grandes. Ponha seus melões para fora, disse a ela. Ela fez. Mamei um, depois outro. Um e outro. O seu-vizinho, o maior-de-todos e o fura-bolo trabalhavam no pote de mel. Me ajeitei no sofá com a pica apontando para o teto. Peguei ela pelo braço e botei sentada em cima, guardou tudo dentro dela e aí veio a melhor parte da sacanagem. Um ai ai ai! ú! Dos diabos. Aquelas duas tetas enormes, balançando, bem na minha frente. Se chacoalhava toda, aquela vadia. Dava umas requebradas com a pica dentro que era coisa de doido. Benza Deus! Queria pensar na florzinha, mas aquele par de tetonas me batendo na cara não deixava.

Tchau, Alvarêz, se quiser eu venho amanhã.

A noite terminava seu expediente e a madrugada já batia o ponto. Mamei mais um pouco do vinho. Pronto, lá se foi mais um dia. O negócio era esperar às seis da tarde do próximo dia e ver o que ia ser.