sábado, 3 de maio de 2014

Todo o vício do mundo

Caminhei até a farmácia, subi na balança e pensei, "que merda". Aguardei o casal à minha frente ser atendido.

- Aqui senhora, esse é o mesmo da receita, só que é mais baratinho.
- Quanto é?
- São três caixas desse, mais uma caixa desse outro. Cento e setenta e quatro reais.
- Mais vale morrer. - Intervim.
- É um trabalho, ele tem que tomar esses remédios, senão começa a falar sem parar, e não fala coisa com coisa. Não deixa eu nem o pai em paz. Ele era caminhoneiro, mas endoidou. Fomos hoje até São Pedro de Alcântara. Ele foi a viagem inteira 'desvia desse buraco, desvia daquele outro', e mexia nos óculos do pai e dizia que o óculos atrapalhava o pai a dirigir. Veja só, um rapaz de vinte e seis anos. Mas o problema todo foi a maconha, saiu por essas estradas e viciou-se em maconha. Ele mesmo diz, 'preciso fumar maconha', e pra se livrar do vício tem que tomar todos esses remédios. E não quer tomar, ficou um dia sem tomar os comprimidos e olha no que deu, fica totalmente agitado e falando sem parar, sem parar, sem parar. Já não sei o que faço, não tenho nem mais vontade de viver, sabe, tudo em função desse filho. Vinte e seis e assim, nesse estado. Tudo por causa da maconha. Agora vive dopado de remédio, senão endoida.
- Deus nos deu uma vida e tem gente que desperdiça assim. - Disse o pai.
- É. - Disse eu.
- Meu Deus, não sei o que faço. - Disse a mãe - Vou para casa dar o comprimido para ele. Boa noite.
- Boa sorte. - Disse eu a ela, e depois que saíram virei para o farmacêutico e pedi uma cartela de comprimidos para dor de cabeça. Paguei pelos comprimidos e voltei para casa. Tomei um e esperei que a dor cessasse. Peguei a garrafa e servi-me uma dose tripla de vodka. Estiquei-me no sofá, acendi um charuto e fiquei pensando em todos os vícios e viciados do mundo.

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