terça-feira, 1 de outubro de 2013

Cabelos vermelhos.

Não tinha os cabelos vermelhos como imaginava Nelson. Uma mulher pouco atraente. Mas pelo menos os cabelos poderiam ser vermelhos, Nelson não resistiria aos cabelos de fogo. Para ele nada mais fazia diferença numa mulher se os cabelos fossem vermelhos.

Recebeu a ligação dela numa noite qualquer. Ela disse que o havia visto num recital de poesia alguns dias antes, que sua poesia poderosa a havia tocado profundamente e que de alguma forma conseguira o telefone dele. Dizia ao telefone que queria vê-lo.

- Bebe cerveja?
- Bebo.
- Lê Dostoievski?
- Leio.
- Já comeu lagosta numa noite estrelada de verão?
- Nunca.
- Já esfaqueou alguém?
- Quase.
- Quase? Bem, nem tudo é perfeito. Tome um ônibus e venha me ver.
- Tenho condução própria.
- Como preferir.

Nelson correu até a geladeira para conferir o estoque de cervejas. Tudo em ordem. Colocou um disco do Frank Sinatra, acendeu um incenso, abriu uma cerveja e jogou-se no sofá.

Duas horas depois o blin-blon da campainha. Levantou-se e foi até a porta. Mal abriu e lá estava ela grudada em seu pescoço, menos mal, ao menos Nelson pode esconder a indisfarçável decepção. Não tinha os cabelos vermelhos como imaginava Nelson. Uma mulher pouco atraente. Mas pelo menos os cabelos poderiam ser vermelhos, Nelson não resistiria aos cabelos de fogo. Para ele nada mais fazia diferença numa mulher se os cabelos fossem vermelhos. Apontou a ela o sofá na sala, "sente-se, vou buscar cerveja para nós" "adoro cerveja!". Correu até a cozinha e pegou uma faca, a mais afiada, partiu algumas rodelas de salame e cebola sobre uma tábua, pegou duas cervejas e seguiu até a sala. "Caso tenha fome", disse, colocando a tábua ao alcance dela. Girou a tampa das duas garrafas e passou uma para ela.

- Ródia deveria ter apunhalado a usurária?
- Por que não?
- Foi assassinato!
- Sim! Somos todos assassinos em potencial. Todos nós, de alguma forma, acabamos por matar alguém algum dia, não há nada demais nisso. Ele apenas fez o que julgou mais correto.
- Já apunhalou alguém?
- Sim.
- Ó! Como foi?
- No desjejum. Depois me limpei e saí para o trabalho.
- Você me atrai.
- Imagino que sim.
- Posso levantar minha saia para você?
- Pode ir buscar mais uma cerveja para mim. E busque uma para você, também. Vamos nos embebedar antes.

Cabelos não-vermelhos, uma mulher minguamente interessante. Nelson não tinha nenhum desejo naquela noite, senão tomar suas cervejas e ficar só. Mas tinha aquela mulher ao seu lado, querendo arrancar-lhe uma foda. Não há nada mais por hoje, além de uma boa noite de sono, disse Nelson, taxativo, vamos nos deitar e amanhã pela manhã você vai. Foram até o quarto e deitaram juntos na cama.

Nelson queria dormir, mas a bunda roçando sua perna foi o que bastou. Jogou-se para cima dela e lançou a língua quente para dentro de sua boca. Lambeu-lhe os dentes, o céu da boca, a língua, os lábios, o pescoço, os seios. Em seguida subiu de volta e entrou.


Acordou nauseado. Foi até o banheiro lavar-se e nem lembrava da mulher que havia dormido ao seu lado. Quando voltou ao quarto ela estava de pé o esperando de braços abertos. Não tinha os cabelos vermelhos como imaginava Nelson. Um crime... Uma mulher pouco atraente. Mas pelo menos os cabelos poderiam ser vermelhos, Nelson não resistiria aos cabelos de fogo. Para ele nada mais fazia diferença numa mulher se os cabelos fossem vermelhos. Ela avançou na direção dele intencionando um beijo quente como o da noite anterior. Nelson se esquivou, arrependido da noite anterior. Que merda que fiz! Pensou. Correu até a cozinha, voltou, e em seguida fez o que fez por julgar o mais correto. Depois desjejuou, limpou-se e saiu para o trabalho.

Nenhum comentário:

Postar um comentário