Dividia esse apartamento no centro da capital com um camarada, e não havia como encontrar lugar pior que aquele. Um moquinfo repleto de mofo e umidade, o aluguel mais barato da cidade. O contrato estava por vencer e decidimos que cada um tomaria seu rumo. Seria legal, pensava eu, mudar de lugar, encontrar um lugar bonito e arborizado, num bom bairro. Uma bela casa, bem arejada, com sol pela manhã e pela tarde. Flores para regar e vizinhos sorridentes para cumprimentar.
Não demorou até que ele conseguisse um lugar para morar. Mas estava difícil combinar o lugar que eu desejava com os proventos que me sobravam para o aluguel. Com o contrato do aluguel no centro por vencer eu corria contra o tempo, não haveria como prorrogar o contrato por mais alguns dias, seria mais um ano ou nada.
Vasculhei os anúncios de aluguel até que bati com um que parecia legal. BOA CASA, NUM BOM LUGAR, POR UM PREÇO LEGAL. Anotei o endereço e no dia seguinte fui visitar o lugar.
Havia uma ladeira incrivelmente íngreme e pela numeração a casinha ficava lá no topo. Seria deveras complicado conciliar a bebida com toda aquela subida. Alcancei o número indicado e bati à porta. Uma dona de idade bem avançada veio me atender.
- Olá, boa tarde, é sobre o anúncio de aluguel.
- Ó sim, temos uma casa para alugar, venha comigo que vou te mostrar. – Ela veio para fora, fechou a porta e saiu para rua. – Fica ali mais adiante. – Disse, apontando para o alto do morro. Subimos mais algumas centenas de metros até alcançar a casa para alugar.
Era uma casinha miúda, de um cômodo mais banheiro e uma pequena cozinha. Não era uma casa nova. Por fora a umidade havia enegrecido toda a parede e o limo cobria a calçada em frente à porta de entrada. Por dentro uma tinta azul envelhecida dividia as paredes com lascas de reboco descascado e rachaduras. Havia mobília. Uma cama de casal, um guarda roupas, uma mesa com duas cadeiras, fogão e geladeira enferrujados. A janela da frente não abria, estava emperrada. A fechadura da porta de entrada não fechava direito. A descarga do banheiro funcionava bem e o chuveiro era de água quente. Combinamos o preço e ainda me sobraria alguma coisa. Já havia esquecido aquela história de sol, flores e vizinhos sorridentes. Adiantei um mês de aluguel para a dona, peguei as chaves (um gesto simbólico já que a fechadura da porta de entrada não funcionava) e voltei para o apartamento do centro para arrumar minhas coisas.
Saímos no mesmo dia. Levei as chaves da antiga morada para o dono do apartamento e “pt saudações!”.
Entrei na nova morada no início da noite. A proprietária havia prometido que iria fazer uma faxina no lugar e realmente estava tudo em ordem quando cheguei. Desfiz minha mala e arrumei meus pertences. A cama estava arrumada e coberta com lençóis limpos. Decidi deitar e me esticar um pouco. Liguei o rádio e me joguei sobre o colchão, mas o negócio não saiu legal. Senti uma pancada nas costelas que me custou uma dor daquelas. Virei-me e passei a mão sobre o lençol. Diabos! Havia um buracão no colchão, grande, bem no meio. Nada fácil ter que dormir todas as noites sobre aquele colchão deformado. Só funcionava mesmo quando a cuca estava molhada de cana e eu caía desmaiado sobre a cama.
Não era apenas isso. As baratas dominavam o lugar. Havia várias delas por todos os cantos, dentro das gavetas, debaixo da cama, na porta de entrada. As que eu conseguia matar já não me dava mais nem ao trabalho de varre-las para fora. Deixava-as ali mesmo, esbranquiçando com o tempo. De madrugada era uma festa, eu enlouquecia de bebidas, dançando às sinfonias de Erik Satie, cerceado de baratas que se juntavam em ciranda à minha volta, comungando sob sombras de velas insinuantes.
Havia também as pacientes lesmas que seguiam seu caminho pelo meio do cômodo. Nunca tive coragem de matar uma daquelas, apenas deixava que seguisse seu caminho. Lacraias e centopéias, também. Ratinhos eu nunca vi. O único maribondo que se arriscou em invadir nosso lar rodopiou bonito quando grudou na teia que a aranha armou entre a perna e a quina de minha cama. Até que foi valente aquele maribondo, lutou até o fim, mas o fim veio ali mesmo, não teve chance.
Certa noite os cupins habitantes da porta do banheiro resolveram criar asas e foi um deus-nos-acuda, aqueles bichinhos voadores tomando todo o cômodo, não havia como dormir, nem como dançar, nem mesmo beber em paz. Eram milhares deles. Na verdade eram milhões, uma invasão sem precedentes. Grudavam nos cabelos, entravam nas narinas, por dentro das calças... mordiam minha bunda. No dia seguinte tirei a porta do banheiro fora (morava sozinho mesmo e não havia necessidade dela ali) e me livrei dela e de seus habitantes.
Até um pé de feijão se encorajou em nascer de dentro do ralo da pia do banheiro. Nunca havia visto nada igual aquilo. Ele veio sem medo, se desenvolvendo verde e vistoso. Tive todo o cuidado para manter aquele broto milagroso que vinha de dentro do ralo da pia do banheiro. O danado até que cresceu, tomou forma. Mas certo dia abri a torneira com força exagerada e o coitado se partiu em dois. Lamentei. Gostava daquele pé de feijão. Era um pé de feijão bem maluco e eu me orgulhava dele por ali. O toquinho que restou eu arranquei, joguei no vaso e dei descarga. Não queria ficar guardando lembranças.
Era tudo legal apesar de não ser.
Foi um sábado. Não havia nada de promissor programado para o restante daquele dia, então resolvi descer até o mercado e pegar alguma bebida para passar a noite. As subseqüentes noites solitárias de um rapaz jovem, de boa formação, bem cotado entre aqueles de seu meio, mas que não esperava muita coisa da vida a não ser beber e esbarrar com qualquer pirada disposta a uma noite de algum sexo e muita bebida. Madrugadas nebulosas desprendidas do sentido das coisas palpáveis, um acontecimento exterior, onde o corpo pequeno dá espaço ao grande espírito remetido a planos disjuntos onde os sentidos percorrem e se encontram por correntes elétricas aurais.
*
Ela tinha os cabelos longos e cacheados. Caminhava na calçada de tênis e roupas de ginástica, esbanjando juventude. A negrinha mais saborosa que um rapaz limpo, educado e de dentes brancos poderia conseguir. Caminhei por um momento seguindo ela a certa distância, desejando aquele corpo saudável, sonhando com a quantidade absurda de sorte que eu deveria ter ao meu lado para conseguir uma daquelas. Alcancei o mercado e entrei. Olhei o corredor das bebidas, estudei todas as garrafas sobre as prateleiras, olhei a origem de cada uma daquelas, só por curiosidade. Escolhi um conhaque de gengibre, e uma garrafa de vinho. Paguei pelas duas e tomei a rua pelo caminho de volta para casa.
A mesma garota dos cabelos longos e cacheados fazia o caminho de volta. Queria poder comer aquele rabo. Uma única foda, quente e forte, de quatro, segurando pelos cabelos dela e metendo com toda força possível. Apertei o passo e a alcancei. Ela me olhou, mas o que não entendi foi que assim que olhou ela me sorriu. Sorri de volta para ela e emendei qualquer conversa. Seguimos conversando por todo trajeto de volta. Procurei concordar com tudo que ela dizia, procurei ser gentil, educado, demonstrar bom gosto e boa formação (acadêmica, familiar, profissional e espiritual. Sabia que toda aquela literatura um dia serviria para alguma coisa). Estávamos nos aproximando do pé do morro da rua onde eu morava. Falei do dia quente e como seria bom poder revê-la mais tarde para poder continuar a promissora conversa. Ela me deixou o número de seu telefone que preferi guardar de cabeça, tentando impressiona-la, dizendo que guardava números de telefone em minha cabeça com facilidade.
*
Subi para casa e aguardei ansioso pelo encontro com a sorte grande. No início da noite fui até um telefone público e disquei o número dela. Um sujeito atendeu, mandou um “alôôôu...” maloqueiro arrastado. Perguntei por ela e ele nada disse. Ficou em silêncio um tempo. Depois virou para alguém junto dele e perguntou se morava alguém ali com aquele nome. O outro pensou... pensou... e com sua voz de maloqueiro chapado de maconha respondeu “não mora aqui nããão”. O firmeza voltou pro gancho e me disse o que o gente boa já havia dito. Desliguei. Merda. Matutei um pouco. Resolvi, então, usar o mesmo número novamente, mas com os números invertidos. Tocou. Alô? Era ela. Reconheci sua voz. Ufa! Conversamos por algum tempo. Ela continuava disposta a me encontrar. Combinamos local e hora. Voltei para casa, tomei o melhor banho dos últimos meses. Esfreguei tudo muito bem para ficar bem cheiroso. Vesti uma camisa legal, vesti as calças e calcei os sapatos. Penteei os cabelos e me fitei. Estava realmente bem aparentado. Nove
horas desci a ladeira e fui ao encontro dela no local combinado. Ela demorou uns cinco minutos. Me deu um beijo no rosto e falou de um bar legal bem perto dali. Aceitei a sugestão e fomos até lá.
Pedimos cerveja. Ela era de uma família de várias irmãs. Seus pais moravam no interior do estado, eram agricultores. Ela e suas irmãs vieram do interior para a capital para estudar e em busca de melhores condições de vida (a velha ilusão). Ela era a mais nova das cinco... ou seis. A única que não era evangélica. Não acreditava em religiões, e era até mesmo um pouco cética em relação a existência de Deus e Jesus Cristo. Havia um clima de constante tensão no relacionamento com sua família. Era como uma ovelha negra. Conversamos por muito tempo e descobrimos muitas idéias em comum. Ela me falou de outros rapazes com quem havia tentado se relacionar, mas que fugiram dela, dizendo que ela era louca, desmiolada, uma pervertida desequilibrada. Aquilo me acertou como uma flechada. Me senti quase apaixonado por aquela louca desmiolada desequilibrada. Ela falava das coisas da vida e do universo com a facilidade de quem não se importa em não ser compreendida. No mundo dos normais aquela menina era louquinha mesmo e eu estava terrivelmente interessado nela.
Depois de algumas cervejas e muita conversa ela virou-se para mim e disse, “vamos lá em casa, minhas irmãs não estão em casa e tenho uma garrafa de champagne!”. Claro que sim! Pagamos as cervejas e fomos para a sua casa.
Ela ligou o rádio e foi até a cozinha desarrolhar a champagne. Sentei no sofá da sala e esperei por ela. Um minuto depois ela voltou com a garrafa e uma caixa de bombons. Sentou-se ao meu lado e não se fez de rogada, entornou um belo gole da bebida direto do gargalo. Ela tinha estilo e personalidade. Me passou a garrafa e eu tomei o meu gole. Em seguida pus a garrafa de lado e colei minha boca na dela para o primeiro beijo. Uma delícia. Puxei o corpo dela contra o meu. Magrinha, nem uma sobra. Ela se levantou e me pegou pela mão. “Venha comigo, vamos para o meu quarto, minhas irmãs logo chegam da missa e não quero que nos vejam aqui. Aquelas crentes vão ficar buzinando no meu ouvido e não vai ser bom”. Peguei a garrafa e ela a caixa de bombons e fomos para o seu quarto. Ela levou o som da sala para o seu quarto e ligou sobre uma cômoda. Não ligou a luz, deixou que a luz da rua fizesse sua parte, um pouco de iluminação, entrando pela janela, o suficiente. Espalhou algumas almofadas pelo chão e se jogou sobre elas. Ela, então, disparou numa gargalhada sem fim. Seu corpo tremia-se todo, e aquela gargalhada ecoava por toda a casa. Fiquei de pé assistindo e achando graça da cena. De repente ela cessou e me olhou, esticou seu braço em minha direção e sorrindo, disse, “vem cá”. Deitei ao lado dela e nos beijamos. Era quente aquela noite com a ovelha negra. Ela era quente, sabia esquentar. Abri sua blusa e pus seus peitinhos para fora. Mamei nos dois e ela agarrou minha vara. Trabalhamos um no outro até que num momento seguinte eu estava com ela de quatro na minha frente, segurando seus cabelos e metendo naquela bocetinha molhada com força e gosto. Pulamos para sua cama e continuamos. Segurava seus cabelos longos e cacheados com uma mão e sua cintura com a outra. Escorregava o negócio para dentro e vlupt vlupt, uma delícia.
Estava me divertindo naquela pretinha desmiolada. Ouvi quando a porta da casa se abriu e em seguida ouvi vozes femininas. Continuei metendo naquela louquinha. Era a bocetinha mais danada que havia comido em muitos meses, rebolava em minha pica que era coisa de louco. Eu fazia com força porque era mais gostoso ainda, ouvir a cama de madeira fazendo toc toc toc. Puxava a danada e beijava em sua boca. E curvava e mamava em seus peitinhos. Ela gemia, gemia, gemia. A gente suava. Como a gente suava.
A trepada prosseguia boa, quando alguém bateu à porta.
- Abra a porta... quem está aí com você?! - Ela pulou da cama e foi até a porta.
- Não me incomode! Estou sozinha! Não tem ninguém aqui comigo!
- Ouvimos o barulho, tem alguém aí com você sim! Abra a porta!
Ela virou-se para mim e disse. – Se esconda no banheiro, atrás da porta! Fiquei quieto atrás da porta que eu dou um jeito aqui.
Havia um banheiro no quarto dela e corri para lá. Me escondi atrás da porta e fiquei em silêncio no escuro. Ouvi quando ela abriu a porta.
- Quem está aí contigo?!?!
- Ninguém! Eu já disse! Ninguém! Está vendo alguém aqui?
- Onde ele está? Eu sei que tem alguém aí contigo!
Permaneci quieto atrás da porta, nu de pau bem duro, ouvindo a discussão das duas irmãs. Não seria nada bom se ela me descobrisse escondido atrás da porta do banheiro.
A irmã percorreu todo o quarto e em seguida entrou no banheiro. Estava escuro. Meu pau duro olhava para ela, mas por sorte ela não olhou em nossa direção. Saiu do banheiro, mais conformada, resmungou alguma coisa e a porta bateu. Voltei para o quarto e nos atracamos novamente. Aquela boceta era louca, quanto mais eu metia mais ela gostava. Tunc tunc tunc! Ó! Ó!
Abracei ela e puxei, colei suas costas ao meu peito e pedi, “rebola, rebola… assim… mais forte!”. Ela rebolava e gemia e era uma cadelinha louca no cio e eu um bêbado sortudo que certamente não teria uma outra daquelas em meses, e estava aproveitando tudo o que podia e tirando todo o atraso. Ó como é bom! Ó como é bom!
A gente se comia com gosto, força e muito desejo. Uma trepada que certamente deixaria energia perdurando por séculos. Deus e o Diabo, os anjos e deuses gregos, figuras mitológicas, Jesus Cristo e Maria Madalena... todos comungavam em exorbitâncias sexuais naquele momento. Os astros em disparada pelo cosmo. Supernova.
Deitamos sobre as almofadas, nos beijando e relaxando. A música era boa. Derramamos mais um pouco de champagne e voltamos a nos apertar. Logo eu estava com o negócio duro de volta e louco para comer a louquinha novamente. Num movimento encaixei. Uma trepada louca. Quase insana. Insana. Não sabia o que um bêbado perdido e fracassado fazia ali com um pedacinho daqueles, mas nem me interessei em perguntar, também. Voltamos para cama e tunc tunc tunc! Tudo outra vez.
Lá de fora, de repente, cânticos de oração a Cristo ecoavam pela sala e atravessavam a porta do quarto. “Que o espírito do mal se afaste desse lar! Que Deus Pai Todo Poderoso proteja essa casa do mal que aqui habita nessa noite...”, coisa do tipo. Eu continuava comendo a doidinha. Não queria perder aquilo por nada nesse mundo. As preces se intensificavam do lado de fora. A certa altura do negócio achei que as crentes iam invadir o quarto com crucifixos na mão, avançar em minha direção e cravar a imagem de Cristo crucificado em meu peito. Imaginação fértil de bêbado. Um olho na bocetinha quente e outro na porta.
Seguimos sem perder o ritmo por mais algum tempo. Impossível dizer ao certo quanto, quando se perde a noção de tempo e espaço. Arremessados a um novo plano onde sozinhos eu e ela criávamos todo um novo universo de luz.
Foi uma noite boa daquelas. Aquela garotinha havia me oferecido uma noite fantástica. Era tarde, muito tarde, a madrugada avançava. Ela disse que era hora de eu partir. Ela me agradeceu pela noite, pela companhia, por tê-la comido com tanto gosto. Ela me disse que eu era louco, e que gostava de mim por isso.
Vesti minha roupa. Ela abriu a porta do quarto e só havia silêncio e escuridão. A luz da rua, que entrava pela janela, atravessou o quarto e chegou até a sala. Havia três moças deitas no chão sobre colchonetes. Permaneciam dormindo. Fui passando entre elas cautelosamente em direção à porta da sala. Eram todas jovens e saudáveis. Uma delas estava sem o lençol por cima do corpo. vestia apenas camiseta e calcinha. Era uma calcinha branca, pequena, trabalhada com rendas. Parecia um anjo, pura, intocada. Abaixei-me ao lado dela, com todo cuidado e silêncio. Tão angelical que me sentia purificado ali ao lado dela. Minha putinha louca apenas olhava da porta do quarto, interessado no que eu estaria disposto com aquele gesto. Escorreguei minha mão pela beiradinha da renda, senti seu calor, sua energia... então pedi a Deus resguardo. Cheguei bem perto, respirei fundo e inalei seu calor.
Levantei-me depois disso. Fui até a porta, acenei para ela e ela da porta do quarto me acenou de volta. Ganhei a rua, o sereno resfriava a noite. A cidade estava deserta, ninguém nas ruas. Quanto mais caminhava, mais frio eu sentia. Pus as mãos nos bolsos e apertei os passos. Tinha uma garrafa de conhaque me esperando em casa.
e que os anjos digam amém,rs.
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