quarta-feira, 15 de julho de 2015

Vermelha e suculenta.

ATENÇÃO SENHORES PASSAGEIROS, O TERMINAL RITA MARIA INFORMA. LINHAS COM PARTIDA ÀS DEZOITO HORAS E QUINZE MINUTOS. EMPRESA ANJOVERDE, COM DESTINO A CARAVAGGIO, EMBARQUE NO PORTÃO B, PLATAFORMA 12. EMPRESA ITUPEGRAND, COM DESTINO A LEBON RÉGIS, EMBARQUE NO PORTÃO A, PLATAFORMA 5. EMPRESA RODA-BRASA, COM DESTINO A POMERODE, VIA GRAJUZINHO, EMBARQUE NO PORTÃO C, PLATAFORMA 17. EMPRESA PALOALTO, COM DESTINO A GAROPABA, EMBARQUE NO PORTÃO B, PLATAFORMA 11.

Passavam três minutos das seis da tarde. Tirei meu bilhete do bolso da camisa e me dirigi ao portão indicado. Passei o bilhete ao porteiro que conferiu, destacou o canhoto, me devolveu o bilhete e disse, boa viagem. Subi os degraus que davam no corredor do veículo e percorri pouco mais que meio caminho. Poltrona 23. Na medida do possível procurei me acomodar na poltrona. Aos poucos os passageiros iam se distribuindo pelas poltronas. Observava cada um que entrava no ônibus. A maioria gente pouco interessante. Um rapaz de boné, uma velhinha gorda, uma velhinha magra, um homem negro de paletó, uma mulher de meia idade com os cabelos despenteados e uma criança no colo, uma gostosa, outra gostosa, mais duas gostosas juntas rindo de alguma coisa. Um homem de quarenta anos, tão comum que não havia como descrevê-lo. Olhou seu bilhete e seguiu pelo corredor procurando sua poltrona, passou por mim e seguiu para os fundos do ônibus. Em seguida voltou, parou ao meu lado, olhou o bilhete, depois a numeração da poltrona, em seguida o bilhete novamente e disse, é aqui. Na loteria dos bilhetes rodoviários nunca ganhava uma gostosa como prêmio.

Eram seis e dezessete quando o motorista engatou a ré, manobrou o ônibus e em seguida partiu rumo a Garopaba. Passaria as próximas duas horas percorrendo trechos sinuosos e esburacados até chegar em casa. E como o bilhete não era premiado, seriam duas horas meditativas, altamente filosóficas, em que muito pensamento bom seria criado para depois se perder ao vento. Isso se não houvesse o infortúnio de ter que enfrentar algum trecho de longa fila causada por mais um acidente.

A viagem seguia já em seu quarto de hora quando o homem ao meu lado resolveu emplacar um diálogo fazendo um comentário qualquer.

- O ônibus hoje vai cheio. – Disse ele.
- É.
- Mais duas ou três paradas e vai ter gente viajando de pé.
- Pois é.
- Tomara que não tenha nenhum acidente.
- Tomara.
- Indo para Garopaba?
- Sim.
- Mora lá?
- Moro.
- Eu não, desço em Paulo Lopes. Moro lá. Sou de Concórdia, mas moro em Paulo Lopes.
- Uhm.
- Faz três anos. É de Garopaba?
- Não, de Florianópolis. Estou em Garopaba há pouco mais de um ano.
- Terra boa.
- Gosto de lá.
- Mora onde lá?
- No Ouvidor.
- Ó sim! Bela praia. Muito bonita mesmo. É uma praia muito querida. Quando desço para Garopaba sempre passo por lá. Gosto muito de lá.
- É, bonito realmente.
- Trabalha lá?
- Sim.
- O que fazes?
- Crio codornas.
- Uhm.
- É.
- Mora com a família?
- Sozinho.
- Moro com minha esposa.
- Que bom.
- Uma bela mulher. Tenho uma foto dela aqui comigo, sempre ando com uma foto dela comigo. Deixa eu te mostrar. – E dizendo isso ele abriu a bolsa que carregava no colo e puxou de lá a fotografia. – Olhe, essa é ela. – Era uma foto 15 x 20 de uma bela plantação de melancias. Olhei para ele, depois para a foto, para ele novamente e em seguida fixei meu olhar na fotografia.
- Ó sim! É uma bela mulher. Deveras. – Disse a ele.
- Não te disse! – Respondeu ele sorridente e orgulhoso.
- E essas ao redor dela? – Perguntei a ele me referindo às outras dezenas de melancias.
- Todas minhas esposas. São dezenas delas. E cada nova que nasce e cresce tomo para mim como esposa.
- Por Deus! Um harém e tanto! E me conte, são boas amantes?
- Ó sim! Sim! As melhores que já tive. Depois de seis casamentos frustrados, encontrei nelas o amor que eu buscava.
- Imagino que sim! Parecem ser mulheres e tanto!
- E são! Não tenha dúvidas disso!
- Ó não, não...
- Passei três dias na capital. Elas certamente estão morrendo de saudades de mim. A noite hoje vai ser boa!
- Opa! Muito amor, hã?
- Demais, demais! Escolho a maior e mais redonda, uma bem suculenta. Tiro do quintal e levo para meu quarto. Ponho ela em cima da cama e nessa hora sinto que ela já está quente de tesão. Quente mesmo, fervendo! Depois vou tomar um banho daqueles para ficar limpo e cheiroso para o meu amor. Rá! Pego a faca que já está esperando do lado da cama e abro uma bela fenda em um dos lados dela, tiro a tampa e ela me mostra toda aquela carne vermelha suculenta. Por Deus! Juro que depois disso não agüento mais nem um segundo e meto minha coisa dura e roxa dentro dela. Pra valer, forte! Nos amamos a noite inteira. Ufa! Que mulher! Só em pensar...
- Cara de sorte. Com todas essas mulheres complicadas que esbarramos por aí você conseguiu encontrar aquela que procurava.
- É sim, encontrei. Agora deixa eu levantar que já está perto do meu ponto.
- Certo, felicidades e boa diversão.
- Ó! Obrigado! Até mais.

Ele desceu e o ônibus partiu. Peguei meu telefone e liguei para Rosanete. “Oi... Sim, Alvarêz...Estou bem e você... Mesmo? Uau! Por essa eu não esperava... As codornas estão bem,  mas tô pensando em entrar pro ramo das melancias... Quero te ver... Sim, sim, eu sei, mas relacionamentos são assim baby... Não, prometo não gritar com você... É eu sei, mas você não pode ser tão agressiva... Claro que é, da última vez você quase que me leva a nocaute com aquele vaso de porcelana... É, eu não devia ter feito, eu sei... Ei, baby, gosto de você e você sabe disso... A maneira como você requebra, e a sua língua quente trabalhando minhas bolas... Gosto, e como gosto!... Certo, que horas?... Me espere toda nua, peladinha, de perna aberta, quero cair de boca nessa sua carne vermelha suculenta... É? Não perdes por esperar... Até.”