Léfio buscou o banco mais à esquerda, era o que ficava mais afastado dos outros fregueses. Sentou-se e fez sinal ao do balcão para que lhe servisse conhaque com bastante gelo. Não houve tempo nem para que a bebida fosse preparada e servida, e logo uma das meninas encostou ao seu lado.
- Olá.
- Oi, eu tenho um pênis.
- Ó! Imagino que deva ter um grande e suculento pênis.
- Quanto você me paga para tê-lo?
- Não banque o engraçadinho, é você quem deve me pagar.
- Por Deus! Eu devo pagar para que você tenha o meu pênis?
- Você pega rápido a mensagem.
- Eu pago, e você o tem... Isso me soa estranho.
- O mundo é estranho.
- Você tem razão.
- Beba seu conhaque, e peça um para mim.
- Ei, rapaz! Um para ela. Com gelo?
- Sim.
- Com gelo!
- Obrigado.
- Me diga, quando devo pagar a você para que você possa tê-lo?
- Trinta pratas, boquete incluso.
- Beba seu conhaque e vamos até minha casa.
Entraram no Volks e seguiram cruzando avenidas e dobrando esquinas, até chegar ao lugar de Léfio. Desceram, depois subiram até o segundo andar. Léfio encaixou a chave na fechadura, girou, abriu e entraram. Acendeu a luz, trancou a porta, colocou boa música e buscou duas Heines. Abriu a ambas e uma deu a ela, que numa só virada matou meia garrafa. Tirou os sapatos, abaixou as calças e foi até a poltrona. Abriu os seis botões da camisa, era uma noite quente, uma noite e tanto.
- Hum, quero isso. - Disse ela, apontando.
- Cerveja? Mas você já tem uma.
- Não! - Resmungou ela, apontando mais precisamente. - Isso! Seu pau!
- Sente-se, baby, tome sua cerveja, vamos conversar, é um diabo duma noite quente, relaxe.
- Quero relaxar aí em cima de você, depois pegar meus trinta e cair fora.
- Relaxe, você terá os seus trinta, e ainda uma carona de volta para o trabalho.
- Você é brocha, ou o quê?
- Baby, se eu meter em você essa coisa aqui, bem dura, você vai precisar de umas duas noites de resguardo para se recuperar.
- Ah! É o que eu quero ver.
- Acalme-se, tome sua cerveja. Seja rápida, pois a noite é quente, ela logo esquenta. Nossa! Veja como sua!
- Deus. Certo.
- Vou buscar mais uma para mim, acabe logo a sua e trago outra para você.
- Deus. Certo - Disse e numa segunda investida derramou a outra metade garganta abaixo.
- Tome. – disse, apontando a ela mais uma garrafa.
- Sabe, primeira vez que um homem me leva para casa para ficarmos apenas 'conversando'.
- Poderia ser pior, baby. Poderiam ter mais quatro ou cinco aqui, esperando. Seria currada até pelas narinas, um em cada narina.
- Quando pensar nisso traga sua mãe, ela estará mais disposta.
- Minha santa mãezinha... Necrofilia não.
- Ó! Desculpe.
- Me conte, já houve alguma foda incomum?
- Diversas. Certa vez transei com gêmeos siameses, sabe, aqueles que estão grudados um ao outro.
- Sim.
- Aqueles eram grudados pelo traseiro, ficavam um de costas para o outro.
- Por Deus!
- Sim, e enquanto um me fodia o outro ficava perguntando 'e aí mano, como está? Como estão fazendo? Me deixa fazer um pouco agora!', então davam meia-volta e era a vez do outro.
- Uma foda e tanto.
- É, revezamento uma por dois. Acho que foi isso.
- Certa vez fodi uma puta, ela tinha só uma das pernas. Céus, como foi difícil, acabava sempre caindo para o lado. Não tinha apoio, entende...
- Ah, sim...
- Pendia sempre em direção à perna faltante, e o pênis escorregava para fora. Acabamos improvisando. Novas posições e tal.
- Porque você chama isso de pênis?
- Ah, desculpe, a pica. Ou pau. A vara... Como preferir.
- Gentileza sua.
Léfio foi até o banheiro e parou de pé em frente ao vaso sanitário. Enquanto mijava observava uma pequena papa-moscas que estava no teto, bem sobre sua cabeça. Havia também um mosquito e a aranha estava bem perto dele, pronta para o bote. "ataque, garota!" disse Léfio. Nisso o mosquito bateu suas asas e partiu. A papa-moscas virou-se e caminhou até o encontro do teto com a parede e se escondeu. Léfio sacudiu, guardou, puxou a descarga e voltou para sala.
- Me diga, quanto tempo temos?
- Mais vinte minutos. Ainda acho que você é brocha. Não pode, me traz aqui e só quer conversar.
- Que diferença faz? Você terá seus trinta, é o que importa para você.
- Você poderia ter ficado lá na casa, sentado tomando seu conhaque, conversando com o garçom.
- É.
- Ó, conhaque. Sempre me ataca a barriga. Com licença.
Ela levantou-se e foi até o banheiro. Da sala Léfio pôde ouvir ela fazer pum. Aproveitou e fez o seu, também. Do outro lado da rua, evangélicos entoavam cânticos. Rezavam para um Deus que não conheciam, buscando uma passagem menos dolorosa possível. Léfio sempre se imaginava por debaixo daqueles cabelos compridos, levantando aquelas saias que iam até o tornozelo, e descobrindo o templo sagrado.
A porta do banheiro se abriu. Ela veio e sentou.
- Quanto tempo temos?
- Mais onze minutos.
- Se apresse! Tome sua cerveja e vamos. Não quero pagar a fração.
- Vamos.
Léfio abotoou a camisa, vestiu as calças, colocou os sapatos e desceram até o Volks. Era uma noite bela e estrelada. Quente, nem mesmo a brisa refrescava. Deu a partida e seguiram.
- Baby, tenho algo se mexendo aqui no meio das pernas. Se mexendo por você.
- Hum, ops, vamos ver.
- Venha, monte enquanto dirijo. Faltam poucos minutos!
- Assim... Mais para cá.. Espere... Preste atenção no trânsito... Assim, na mira... Ah uhmmm... Seu pênis, enfim!
Chegaram ao destino três minutos atrasados. Ela puxou da bolsa uma pequena calculadora e começou a digitar. "trinta por sessenta dá cinqüenta, multiplicado por três dá um e cinqüenta, somado com trinta é trinta e um e cinqüenta". Léfio puxou três notas de dez, mais duas moedas de cinqüenta e outras duas de vinte e cinco e entregou a ela. "Aí está, o que te devo por ter tido meu pênis", disse Léfio. Ela pegou o dinheiro, saltou do Volks e entrou. Ele saltou, fechou a porta e seguiu o mesmo rumo.
Léfio buscou o banco mais à direita, era o que ficava mais afastado dos outros fregueses. Sentou-se e fez sinal ao do balcão para que lhe servisse conhaque com bastante gelo.